quinta-feira, 10 de dezembro de 2009

As hipóteses de escrita, o erro e a intervenção do professor

As hipóteses e os erros Algumas das hipóteses levantadas pelas crianças são que, na escrita, não se pode representar algo com pequena quantidade de letras ou com letras iguais. Na leitura, ela imagina que não é possível ler sem imagem - como se a escrita fosse sempre a "legenda" que acompanha um objeto. A criança poderá também formular a hipótese do "realismo no­minal", ou seja, a ideia de que o objeto representado se confunde com a palavra que o nomeia. Assim, o tamanho de um objeto deve corres­ponder à extensão de sua representação grafada. Um bom exemplo pode ser observado em boi e formiguinha: se boi é um animal grande, a palavra boi, deveria ser, necessariamente, grande, assim como a palavra formiguinha deveria ter grafia bem pequena. Para a Teoria da Psicogênese, o que aparece como erro à primeira vista é, na verdade, um processo de atividade constante em que a criança está elaborando hipóteses e alargando seu campo de conhecimento linguístico. São os chamados "erros construtivos". Ferreiro e Teberosky afirmam que "o que antes parecia erro por falta de conhecimento surge-nos agora como uma das provas mais tangíveis do surpreendente grau de conhecimento que uma criança tem sobre seu idioma". Intervenção do professor A criança está constantemente pensando sobre seu objeto de aprendizagem - a língua escrita. Quando instigada ou estimulada a conferir suas hipóteses, a criança vive o chamado "conflito cognitivo". Nesse processo, ela pode mudar sua hipótese e transformá-la num outro conceito, mais amplo e mais complexo. É importante que o alfabetizador conheça os processos psicolinguísticos por que passa uma criança ao aprender a ler e escrever. Antes dos estudos da psicogênese, as crianças aprendiam ou não a ler e escrever sem que o professor entendesse as hipóteses e as dificul­dades das crianças ao longo desse percurso. Para a pesquisadora do Ceale e professora do Centro Pedagógico da UFMG, Clenice Griffo, "se o alfabetizador conhecer por que a criança está pensando daquela maneira, ele terá mais condições de fazer intervenções e elaborar atividades para ajudá-la a avançar no processo de aquisição da língua escrita. A opção por um método de alfabetização precisa estar articu­lada a essa compreensão." (Conrado Mendes) Hipóteses do aprendizado da língua escrita A Psicogênese desvendou algumas hipóteses do processo de alfabetização de uma criança. São elas, em linhas gerais: pré-silábica, silábica e alfabética. É importante ressaltar que a passagem de uma hipótese para a outra é gradual e depende muito das inter­venções feitas pelo professor. Hipótese Pré-Silábica: a criança ainda não compreen­deu a natureza do nosso sistema alfabético, no qual a grafia representa sons, e não ideias, como nos sistemas ideográficos (como a escrita chinesa). Nessa fase, ela vai representar a escrita com desenhos ou outros sinais grá­ficos e poderá formular a ideia de que a escrita seria uma espécie de desenho. Por essa razão, a grafia de uma palavra deveria apresentar características do objeto que representa (realismo nominal). O professor deve intervir ajudando o aprendiz a compreender as diferenças entre o nosso sistema de escrita alfabético-ortográfico e outros sistemas de representação, e também a distinção entre "desenhar" e "escrever". Hipótese Silábica: a criança, ao perceber a sílaba como segmento da fala, acredita que cada letra a repre­senta graficamente. Então, ao escrever elefante, grafa quatro letras, como E, L, F e T. Nessa hipótese, a criança pode escrever ainda sem fazer corresponder letra e som; por exemplo, se ela se chama Marcelo, poderá escrever elefante com quatro letras do seu nome. Quando já relaciona letra com o som, a criança está mais perto do princípio alfabético. O professor deve levar o aprendiz a reconhecer unidades ou segmentos sonoros em sílabas, palavras e frases; por exemplo, a segmentação (oral ou escrita) de frases em palavras, de palavras em sílabas, de sílabas em letras. Hipótese Alfabética: ao construir essa hipótese, a criança percebe que, na fala, as palavras possuem unidades menores que as sílabas: os fonemas. Mas ela não percebe logo todos os fonemas. O R no final das palavras ou os sons nasalizados são menos evidentes e, por isso, são mais dificilmente percebidos. Se o professor pede ao aluno para escrever a palavra amor, ele pode escrever AMO e ler amor. Para ajudar a criança a dominar as relações entre grafemas (letras) e fonemas (sons), o professor deve explorar várias estruturas silábicas e levar o aluno a explorar os princípios e regras ortográficos do sistema de escrita.

Um comentário:

Simone Bicca Charczuk disse...

Oi Rose!!! Seria interessante trazeres o relato de alguma situação vivenciada em sala de aula que exemplifique as questões teóricas que apresentas. Abração!!