terça-feira, 26 de maio de 2009

Inclusão é diferente de integração


Para entendermos o princípio da igualdade é preciso mudar o conceito antigo da deficiência, que busca adaptar a pessoa deficiente ao sistema educacional, para começar a trabalhar em prol da inclusão social, onde o sistema educacional é adaptado às necessidades especiais de qualquer aluno (GUTIERRES FILHO, 2002).
Porque, segundo Sartoretto (2001), "a tentativa de mudar o aluno para poder freqüentar a escola já se revelou ineficiente e responsável pela evasão e pelos altos índices de reprovação presentes na maioria das escolas".
Simplesmente inserir crianças com necessidades educacionais especiais na escola, não basta, as mudanças necessárias para que a inclusão seja positiva implica em uma política de inclusão. Não basta ampliar vagas para pessoas com deficiência, garantindo o acesso e a permanência delas na escola, é preciso dar garantias de que possam continuar, sem discriminação e de que consigam acompanhar a turma.
Pensar na inclusão é pensar numa nova escola que atende a todos indistintamente e que pode ser repensada em função das novas demandas da sociedade atual e das exigências desse novo aluno.
Para o processo de inclusão é preciso uma mudança qualitativa no trabalho educacional no interior da escola, o que requer um envolvimento de todos os profissionais da educação, alunos e pais, na reorganização do espaço e do tempo da escola, e que sejam garantidas condições de trabalho para os professores e condições de permanência e de estudo para os alunos.
Segundo Holanda, "A inclusão de aluno com déficit cognitivo numa escola regular seria a garantia de direito de todos a educação. Conviver com a diferença é formar um cidadão diferente do que se tem hoje, com muitos preconceitos. Acreditar na possibilidade da inclusão exige posturas diferentes, um currículo e uma escola voltada para o desenvolvimento da competência do aluno, não para seu adestramento cognitivo. Uma escola inclusiva é aquela que vai facilitar também a vivência e experiência com outras crianças, para que elas percebam, por si, como ser sociais".

quinta-feira, 21 de maio de 2009

Pluralismo étnico-cultural e racial brasileiro


Vendo a escola como o espaço onde se encontra a maior diversidade cultural, e por isso trabalhar as diferenças é um desafio para nós professores, pois somos mediadores do conhecimento, ou melhor, facilitadores do processo ensino-aprendizagem.


A escola é o lugar ideal para discutir as diferentes culturas, e suas contribuições na formação do nosso povo, o pluralismo étnico-cultural e racial da sociedade brasileira. Assim nós, como educadores e responsáveis pela formação de crianças e jovens temos de nos preocupar com as questões da diversidade e com os preconceitos na sala de aula e no espaço escolar, para desta forma educar para a igualdade, buscando uma educação para a democracia, conforme cita Eliana Oliveira, "A identidade confere diferenças aos grupos humanos. Ela se evidencia em termos da consciência da diferença e do contraste do outro."

Afro-descendentes em minha escola


Com base nestes dados realizei o levantamento de raças na escola. A partir do estatístico de raças dos alunos, conforme declaração dos pais no ato das matrículas e rematrículas:
brancas - 273, pardas - 23, negra - 1, amarela - 1 e não declaradas- 87.
Analisando os dados estatísticos da escola pude perceber como há pessoas que não se declaram, não assumem sua raça.
Conversando com alunos afro-descendentes sobre aspectos étnico-raciais, procurei primeiro deixá-los bem à vontade, para que não criasse expectativas ou despertasse razão para a discriminação.
O primeiro aluno não fora diretamente entrevistado, mas tenho observado seu comportamento desde que falamos em assuntos étnico-raciais. Inicialmente este não se aceitava como negro, embora dissesse que seu apelido era "Neguinho". Dias depois, quando falávamos em questões étnico-raciais este insistia em repetir que era negro. Quando iniciamos o projeto sobre os Índios, o aluno contou-nos que tinha origens indígenas, não há uma conservação de ideias, este ainda não compreende claramente suas origens, bem como muda rapidamente de opiniões.
A segunda entrevista fora realizada com duas irmãs que tem um histórico mais complicado, pois ambas estudam na mesma série, vem de uma outra escola onde sofriam discriminação, principalmente uma das duas, pois tem uma mancha no rosto, esta aluna está defasada, é muito séria e não conversa muito, essencialmente o básico, creio que nestas dimensões desenvolveu mecanismos de defesa que prejudicaram o desenvolvimento pleno da sua aprendizagem. Acredito que hoje esta aluna esta em fase de superação de atos discriminatórios que sofrera e que diminuem sua auto-estima e inibem o pleno desenvolvimento cognitivo. Já a irmã, com menos traços da raça, é mais tranquila, não dá tanta importância aos aspectos étnico-raciais, parece estar à vontade, ao contrário de sua irmã é muito falante e espontânea.
O último entrevistado, o único no estatístico que se assumiu como negro, é um garoto admirável, dono de uma simpatia sem igual. Estudante de nossa escola desde a primeira série, quando questionado diz que se sente igual aos outros colegas, que não sofre discriminação, que ser negro não lhe traz problemas. Assim percebo o aluno em sala de aula, muito tranquilo e bem aceito no grupo de convivência escolar. Nesta entrevista descobri que já fui professora de sua irmã, com a qual eu também, nunca presenciei sofrer nenhum tipo de discriminação.
Acredito que é fundamental o olhar na multiculturalidade existente em nossas salas de aula, pois cabe ao professor o dever de entender e orientar no sentido de compreender as culturas, mudar as crenças preconceituosas, de modo a descobrir a riqueza que há dentro de cada criança.
Talvez o fato de hoje, outras etnias estarem menos presentes em nosso cotidiano, ter perdido a forte expressão que tinham nesta região, traga um conforto aos alunos negros que tanto sofriam a discriminação na escola, pois os reflexos dos preconceitos na sociedade brasileira caminham lentamente para a igualdade. Lembro que quando eu era criança, meu pai, descendente de etnia alemã, tinha muito presente que ser negro era depreciativo, no entanto mesmo ouvindo sua fala racista eu nunca consegui ter a mesma opinião que ele sobre um negro pelo fato de ser outra cor, cultura, poder aquisitivo inferior ou superior, não incutiu em mim estes falsos valores.

Dimensões da Expressão Afro-Cultural


Ao longo de nossa história, na qual a colonização se fez presente, a escravidão e o autoritarismo contribuíram para o sentimento de inferioridade do negro brasileiro. A ideologia da degenerescência do mestiço, o ideal de branqueamento e o mito da democracia racial foram os mecanismos de dominação ideológica mais poderosos já produzidos no mundo, que permanecem ainda no imaginário social, o que dificulta a ascensão social do negro, pois este é visto como indolente e incapaz intelectualmente. No Brasil, os dados oficiais mostram que as desigualdades sociais são mais profundas à medida que as pessoas pobres não só são empobrecidas, mas são negras. O Brasil branco é 2,5 vezes mais rico que o Brasil negro. Nos últimos anos, as diferenças entre negros e brancos vêm se mantendo. Na educação, um branco de 25 anos tem, em média, mais do que o dobro de anos de estudo do que um negro da mesma idade.
Passados mais de trezentos anos, as comunidades negras e os quilombos são exemplos de resistência cultural e social do povo negro em meio ao conjunto da sociedade brasileira, ainda injusta e discriminadora.
Conforme o censo mais recente, quarenta e quatro por cento da população brasileira é afro-descendente, mas só cinco por cento das pessoas se declaram negras. Estes dados se tornam mais ainda espantosos quando sabemos que, da população brasileira mais empobrecida, sessenta e quatro por cento são pessoas negras. Analisando os dados estatísticos da escola pude perceber o quão há pessoas que não se aceitam, pois no fato de não declarar sua raça, estão omitindo suas raízes.

segunda-feira, 11 de maio de 2009

Clube do Imperador


O professor William, percebendo que apesar de alguns poucos avanços, não consegue mudar o caráter do aluno, entra em conflito interno sobre o que são vitórias e derrotas. O conflito se torna mais profundo quando se decepciona, ao perceber que, mesmo entre os mestres da escola, a “esperteza” se sobrepõe à integridade de caráter e à honestidade. Quando chega sua chance de ascender ao cargo máximo, ser diretor, a escolha recai sobre alguém bem mais jovem que ele e que tinha como principal habilidade conseguir dinheiro para sustentar o colégio. Aqui se reforça a ideia de poder frente à  competência, onde o interesse financeiro é o que rege.

Percebendo seu erro, o professor se despe de qualquer orgulho e se desculpa com o aluno, do qual tirou a vaga de participar do concurso, e com a educação inteligente que teve, este aceita as desculpas. Outra forma que o professor encontrou de corrigir seus erros fora de dar ao  concorrente uma pergunta que não seria capaz de responder.

O fato é que mesmo com inúmeras decepções o professor volta a ensinar, com o mesmo amor e entusiasmo dos velhos tempos, partindo da premissa que não incorrerá no mesmo erro novamente.

Gostei muito do filme, pois sendo professora, vejo que vivemos da esperança de desenvolver o bom caráter de um aluno e da convicção de que o caráter de um aluno pode mudar seu destino. Assim como a frase citada no filme "A sorte está lançada.", onde  o educador se prolonga e se imortaliza nas muitas vidas por ele conduzidas no caminho da aprendizagem.

O filme mostra sutilmente que alunos medíocres sempre existirão, afinal, joio e trigo se misturam facilmente, porém, a fé na educação deve permanecer. Em todo empreendimento de sucesso há uma pequena margem de fracasso. Como a citação de Aristófanes, lembrada no filme: "A juventude envelhece, a imaturidade é superada, a ignorância pode ser educada e a embriaguez passa, mas a estupidez dura para sempre." 

Atuação na utilização do Método Clínico

   Com base na aplicação da prova, vendo-me como experimentadora observadora, procurei analisar o que estava acontecendo e entender seu significado. Tinha-se por objetivo compreender a lógica da aluna e a relação com suas capacidades mentais, na tentativa de descobrir o significado de suas ações ou explicações com relação à metodologia clínica de Piaget.

            A partir da aplicação, busca-se formular hipóteses acerca das respostas dadas pela aluna, bem como já procurar características que vislumbravam o estádio de desenvolvimento em que a aluna está.

            Usar esta metodologia nos permite dialogar, argumentar e contra-argumentar com a criança, dando-lhe a possibilidade de acompanhar seu pensamento a respeito de uma dada noção, no entanto nos detivemos à aplicação conforme a sugestão apresentada no roteiro para que a pesquisa não fosse invalidada, pois este dialogar deve ser muito bem elaborado.

            Por ter uma estrutura aberta, o método clínico pode ser considerado como o de aplicação mais difícil, pois requer um preparo para lidar com respostas inesperadas do educando. Além disso, deve-se ter o cuidado de não interferir no raciocínio da criança de modo que estas passem a produzir respostas sugestionadas. 

  A aplicação do método clínico, através da aplicação da prova com massa de modelar permitiu conhecer por meio das respostas da criança os caminhos percorridos para se chegar ao pensamento operatório. Ressalto que a experiência com a aplicação do método clínico foi válida, considerando ser o primeiro contato com esta metodologia proporcionando uma aprendizagem muito significativa.

Aplicação do Método Clínico


 Com base na aplicação da prova, acredito que a aluna esteja no estádio pré-operacional, pois ainda não há conservação, que é o critério psicológico da presença de operações reversíveis. Neste estádio o pensamento ocorre de forma lenta e concreta.

            A criança é restrita ao aspecto figurativo, não é capaz de conceber a transformação, limitando-se a forma externa do estado inicial e final desta transformação. Não opera mentalmente a reversibilidade. A criança em fase pré-operacional pensará que há mais em um do que em outro. Na ausência da reversibilidade não há conservação da quantidade.

            Existem “representações da realidade”, por exemplo, quando transformamos uma bolinha em uma bolacha, esta lhe representava ser maior, na justificativa apresentada pela aluna em que o tamanho da circunferência diferenciava uma bola de massa da outra. A aluna não foi  capaz de perceber que apesar das variações da forma, o volume continuava o mesmo, não sendo retirada, nem adicionada massa durante o teste.

            A aluna procura o equilíbrio entre os processos de assimilação e acomodação, há dúvidas, assim suas assimilações lhe trazem  insegurança, sem uma acomodação completa, o que significa que os erros próprios do raciocínio  cabem nesta fase, pré-operatória, bem como da interpretação que faz do material analisado.

            Segundo a Teoria Piagetiana, quando a criança não tem noção de conservação, isto é, quando ela não acredita que pode haver diferentes configurações para um mesmo objeto, ela está no período pré-operatório, pois este período se caracteriza pelo egocentrismo, centralismo e irreversibilidade, ou seja, sente necessidade de justificar seu raciocínio, além de sentir dificuldade de sair do seu ponto de vista pra assumir o do outro, ou ainda, ter sua atenção voltada somente ao aspecto ou configuração do objeto, não vendo a possibilidade de transformá-lo.

            Desta forma a criança confirma a teoria de Piaget, seguindo sua classificação de não-conversão.