domingo, 4 de outubro de 2009

Práticas de Leitura, Escrita e Oralidade no Contexto Social

Ao construir narrativas, a criança brinca com a realidade e encontra um jeito próprio de lidar com ela, assim também a criança traz suas vivências em sua criação, remetendo-se a uma experiência própria, para a qual cria o personagem. As situações vivenciadas pela criança se misturam com sua imaginação, pois traz elementos de sua realidade junto a elementos das histórias ouvidas.
As crianças em fase inicial da alfabetização, que ainda não leem, percebo que incorporam ideias para tornar as suas histórias interessantes. Além disso, o acesso aos livros, textos, histórias contadas tem um papel importante no seu amadurecimento afetivo, garantindo que ampliem seu universo de experiências para além do que podem observar no seu cotidiano. Conforme o autor Gurgel:

“A distinção entre ficção e realidade ainda está em desenvolvimento nos anos da Educação Infantil - um aspecto que sempre deve ser considerado nas conversas com os pequenos. Isso se relaciona com uma das características mais vivas do pensamento da criança: o sincretismo, ou seja, a liberdade de associar elementos da realidade segundo critérios pessoais, pautados principalmente por afetividade, observação e imaginação.”
A criança assume o papel de narrador, nessa flexibilidade de fronteiras entre experiência pessoal e a situação imaginada em que é saudável que misture realidade e ficção para mais tarde separá-las. É como Gurgel coloca:

"Adquirir a fala, por sua vez, é um passo transformador em termos cognitivos, uma vez que é a linguagem que organiza o pensamento. "O pensar não se estrutura internamente, mas no momento da fala". "A narrativa (primeira estrutura da oralidade com que a criança tem contato em seu cotidiano) é, portanto, o que modela e estimula a atividade mental."

É no “fazer-de-conta que lê” e no “fazer-de-conta que escreve”, nestes jogos as crianças vão dando sentido, nas diferentes instituições sociais (família, pré-escola, escola, etc.), que consignam ao sujeito diferentes papéis e possibilidades: o daquele que pode ler e escrever ou fazer de conta que lê e escreve e o daquele que não o pode porque não o sabe. É na presença ou na ausência do brincar de ler para a criança (jogos de contar), no brincar de ler com a criança, no brincar de desenhar e escrever (jogos de faz-de-conta) que se reencontra o sentido social da escrita daquela subcultura letrada.
Assim vejo presente o letramento, pois a criança não está alfabetizada mas já faz uma leitura de mundo, traz consigo o pen­samento mágico. A fala antecede ou tem prece­dência sobre a escrita. Nessa relação de desenvolvimento da linguagem há a presença do letramento. Posso concluir que o letramento e a alfabetização são dois processos complexos que vão se concretizando a medida que fazem sentido para o aluno.

Um comentário:

Simone Bicca Charczuk disse...

Oi Rose, muito legal essa tua postagem, podemos pensar, a partir das tuas reflexões, na importância do próprio brincar para a aprendizagem das crianças. Abração!!