domingo, 27 de setembro de 2009

Letramento

O conceito de letramento começou a ser usado nos meios acadêmicos como tentativa de separar os estudos sobre o "impacto social da escrita" (Kleiman, 1991) dos estudos sobre a alfabetização, cujas conotações destacam as competências individuais no uso e na práti­ca da escrita. Eximem-se dessas conotações os sentidos que Paulo Freire atribui à alfabetização, que a vê como capaz de levar o analfabeto a organizar reflexivamente seu pensamento, desenvolver a consciência crítica, intro­duzi-lo num processo real de democratização da cultura e de libertação.
Conforme Kleiman (2001), o termo letramento é o conjunto de práticas sociais que usam a escrita enquanto sistema simbólico e enquanto tecnologia, em contextos específicos, para objetivos específicos, extrapolando o mundo da escrita tal qual ele é concebido pelas instituições que se encarregam de introduzir formalmente os sujeitos no mundo da escrita. Ela afirma que a escola (a mais importante agência de letramento) preocupa-se não com o letramento enquanto prática social, mas com apenas um tipo de letramento: o escolar.
No entanto, alfabetização deve ser pensada como um processo que vai muito além de técnicas de transcrição da linguagem oral para a linguagem escrita. Não basta apenas codificar e decodificar signos: é preciso letrar; pensar na perspectiva de alfabetizar letrando, ou seja: ensinar a ler e a escrever no contexto das práticas sociais da leitura e da escrita, de forma que a criança possa se tornar ao mesmo tempo alfabetizado e letrado.
Nós somos seres integrantes do processo ensino-aprendizagem da linguagem, precisamos ao longo do processo de alfabetização desenvolver as capacidades para “letrar” um cidadão, pois uma criança pode não estar alfabetizada, porém já conhece o mundo do letramento ao ter contato com placas, cartazes, panfletos, histórias, jornais, revistas,..., mesmo que ainda não leia.
A sociedade evolui ano após ano, será que basta-nos sermos alfabetizados? Segundo Magda Soares “... um indivíduo alfabetizado não é necessariamente um indivíduo letrado; alfabetizado é aquele indivíduo que sabe ler e escrever; já o indivíduo letrado, usa a leitura e a escrita socialmente, respondendo às demandas sociais de leitura e escrita.”
É fundamental que a escola assuma como próprio o uso social da leitura porque somente assim poderá oferecer um ambiente autenticamente letrado para a grande quantidade de crianças que têm tido pouca oportunidade de participar de situações de leitura fora da escola. É preciso oferecer-lhes “textos do mundo” porque quanto mais variado for o contato dos alunos com os diferentes tipos de texto, quanto mais diversificados forem os objetivos da leitura e escrita, mais chances de se inserirem em práticas sociais de uso de ambas terão os alunos.

Cultura Surda

"O ouvido humano é surdo aos conselhos e agudo aos elogios"
William Shakespeare
Com base às leituras realizadas e com referência a nossa aula presencial, percebi o quão sou ignorante a respeito da surdez. Eu nada sabia a respeito da aprendizagem de Libras, fiquei pasma com o conhecimento de uma língua completamente visual, a língua de sinais, diferente em modo de nossa própria língua, a falada.
Segundo PERLIN (1998: 53), a identidade surda sempre está em proximidade, em situação de necessidade com o outro igual. O sujeito surdo nas suas múltiplas identidades sempre está em situação de necessidade diante da identidade surda. O termo surdo é carregado, no imaginário social, de estigma, de estereótipo, de deficiência, e significa a urgência da necessidade de normalização, em antagonismo ao conceito da diferença, como disse PERLIN (1998: 54): o estereótipo sobre o surdo jamais acolhe o ser surdo, pois o imobiliza a uma representação contraditória, a uma representação que não conduz a uma política da identidade. O estereótipo faz com que as pessoas se oponham, às vezes disfarçadamente, e evitem a construção da identidade surda, cuja representação é o estereótipo da sua composição distorcida e inadequada.
Há a necessidade de uma nova visão sobre o sujeito surdo, que é diferente e não deficiente. Por que não podemos repensar o nosso olhar? O que o sujeito surdo tem de diferente? Segundo PERLIN (1998: 56) ser surdo é pertencer a um mundo de experiência visual e não auditiva. Viver uma experiência visual é ter a Língua de Sinais, a língua visual, pertencente à outra cultura, a cultura visual e lingüística. A identidade surda se constrói dentro de uma cultura visual muito complexa, no entanto essa diferença precisa ser entendida não como uma construção isolada, mas como construção multicultural.
A educação é nosso instrumento de mudança, por meio desta que, direta ou indiretamente, conduzem-se as transformações cruciais em nossa sociedade, em nossa história, pois ela carrega o cerne da manifestação humana - a comunicação - ferramenta preciosa de qualquer cultura onde a presença central se constitui em torno do ser humano. Com a educação, repassamos as informações através da história, e a cultura permanece, sustentando a existência do homem e expandindo-a cada vez mais, delineando os contornos que marcam nossa presença, nossa existência.

segunda-feira, 21 de setembro de 2009

Minhas vivências com a EJA

Gostaria de falar um pouco da minha experiência com a EJA, de 1997 à 2002.Neste período trabalhei com séries finais, por meio do Telecurso 2000 e também na Alfabetização, onde tive alunos jovens, alunos de meia idade e alunos idosos. Nestas turmas de Alfabetização estudavam dois jovens, reintegrados a escola por determinação do juiz, novamente via-se retratada a Inclusão social.Um por envolvimento em roubos, o outro por ter envolvimento em briga e tentativa de homicídio, bem como ambos eram usuários de drogas.O primeiro sempre muito quieto, introvertido, mas que me deixava assustada. Este concluiu a primeira e segunda série, mas no ano seguinte não voltou aos estudos. Algum tempo depois li no jornal que fora preso por estupro.O segundo era o oposto, falava muito, por sinal irritava os colegas. Certo dia um colega chamou-lhe a atenção e este ficou tão perturbado que começou a riscar fósforos na idéia absurda de atear fogo no colega dentro da sala de aula.Alguns dias depois trouxe uma carta que recebera da namorada, a qual me pediu que lesse, pois ainda não compreendia o que lia. Neste dia ele me contou muitas coisas em que estava envolvido, situações bem complicadas e disse que iria mudar-se para um município do interior. Dias depois não mais compareceu à escola.Já os idosos, que saudades, estes tinham o desejo de aprender a ler e escrever, assinar o nome, no entanto cheios de traumas e bloqueios.Nesta caminhada com a EJA, vivenciei as grandes dificuldades que os alunos trazem consigo nas séries iniciais, mas quando superam-nas, a aprendizagem passa a ser compreendida em sentido amplo, como parte essencial da vida. O trabalho com a EJA é muito gratificante.

sexta-feira, 18 de setembro de 2009


“A especialização sem limites culminou numa fragmentação crescente do horizonte epistemológico. Chegamos a um ponto que o especialista se reduz àquele que, à causa de saber cada vez mais sobre cada vez menos, termina por saber tudo sobre o nada. (...)”.
Em nosso sistema escolar, “ensina-se um saber fragmentado, que constitui um fator de cegueira intelectual, que decreta a morte da vida e que revela uma razão irracional. A ponto de o especialista não saber nem mesmo aquilo que acredita saber. Essas “ilhas” epistemológicas, dogmática e criticamente ensinadas, são ciumentamente mantidas por estes reservatórios ou silos de saber, que são as instituições de ensino, muito mais preocupadas com a distribuição de suas fatias de saber, de uma ração intelectual a alunos que não têm fome. (...)
É por isso que o interdisciplinar provoca atitudes de medo e de recusa. Porque constitui uma inovação. Todo o novo incomoda. Porque questiona o já adquirido, o já instituído, o já fixado e o já aceito.”

(JAPIASSU, Hilton. A questão da interdisciplinaridade. Revista Paixão de Aprender. Secretaria Municipal de Educação, novembro, n°8, p. 48-55, 1994.)
Fonte:HARPER, Babette et al. Cuidado, Escola! São Paulo: Brasiliense, 1980

quinta-feira, 17 de setembro de 2009

Função Permanente ou Qualificadora - EJA

Conforme o PARECER CNE/CEB 11/2000, a função permanente ou qualificadora em que a educação de jovens e adultos deve ser vista como uma promessa de qualificação de vida para todos, propiciando a atualização de conhecimentos por toda a vida. Mas do que função, ela é o próprio sentido da EJA, que tem como base o caráter incompleto do ser humano, cujo potencial de desenvolvimento e de adequação pode atualizar-se em quadros escolares ou não-escolares. Mais do que nunca, ela é um apelo para a educação permanente e criação de uma sociedade educada para o universalismo, a solidariedade, a igualdade e a diversidade.

Função Equalizadora - EJA

Conforme o PARECER CNE/CEB 11/2000, a função equalizadora aplica-se àqueles que antes foram desfavorecidos quanto ao acesso e permanência na escola, devendo receber, proporcionalmente, maiores oportunidades que os outros, para ter restabelecida sua trajetória escolar de modo a readquirir a oportunidade de um ponto igualitário no jogo conflituoso da sociedade. Por último, a qualificação, mais do que função, é o próprio sentido da EJA. Tem como base o caráter incompleto do ser humano que busca atualização em quadros escolares e não escolares. Jovens empregados, subempregados ou não, podem encontrar nos espaços e tempos da EJA, nas funções reparadora, equalizadora ou qualificadora, um lugar de melhor capacitação para o mundo de trabalho, construindo conhecimentos, habilidades, competências e valores (BRASIL, 2000, p.30-39). A função equalizadora dará cobertura a trabalhadores e a tantos outros segmentos da sociedade possibilitando–lhes a reentrada no sistema educacional. Há que se reconhecer no seio da sociedade a existência da diversidade e garantir nas políticas públicas a efetivação de oportunidades diferentes para eliminar as desigualdades, equalizar o acesso aos bens sociais e o exercício da cidadania, fazendo cumprir com o princípio constitucional de que a educação é direito de todos.

Função Reparadora - EJA

Conforme o PARECER CNE/CEB 11/2000, a função reparadora constitui-se na restauração do direito a uma escola de qualidade, o que significa ter acesso a um bem real, social e simbolicamente importante, contribuindo para a conquista da cidadania e a inserção no mundo do trabalho, através da aquisição das competências exigidas para isso. A função reparadora significa a entrada no circuito dos direitos civis pela restauração de um direito negado: o direito a uma escola de qualidade e o reconhecimento de igualdade de todo e qualquer ser humano. Significa não só a entrada no circuito dos direitos civis pela restauração de um direito negado – o direito a uma escola de qualidade, mas também o reconhecimento daquela igualdade ontológica de todo e qualquer ser humano.
A função reparadora deve ser vista, ao mesmo tempo, como uma oportunidade concreta de presença de jovens e adultos na escola e uma alternativa viável em função das especificidades sócio-culturais destes segmentos para os quais se espera uma efetiva atuação das políticas sociais. É por isso que a EJA necessita ser pensada como um modelo pedagógico próprio a fim de criar situações pedagógicas e satisfazer necessidades de aprendizagem de jovens e adultos.

Educação de Jovens e Adultos

Os alunos da EJA, quando retornam à escola, trazem muitos saberes e as situações do cotidiano escolar oferecem condições favoráveis ao processo de formação continuada e produção de saberes pelos alunos e professores.
Cabe, portanto, à escola, orientar seu trabalho com o objetivo de preservar e impulsionar a dinâmica do desenvolvimento e da aprendizagem, preservando a autonomia do aluno e favorecendo o contato sistemático com os conteúdos, temas e atividades que melhor garantirão seu processo e integração como alfabetizando e cidadão. Assumir-se como aluno, após um longo período de afastado da escola, consiste em uma das grandes dificuldades apresentadas pelo adulto trabalhador. A necessidade imperativa de desenvolver a disciplina necessária aos estudos, o pouco tempo livre para estudar em casa, o cansaço sentido, após um dia inteiro de trabalho, a percepção de possuírem um ritmo diferenciado de aprendizagem, demandando mais tempo e atenção, tudo isso contribui para tornar ainda mais tensa e difícil a retomada da trajetória de escolarização.
Demandar um trabalho específico que considere seu contexto de vida, necessidades de aprendizagem, desejos e expectativas em relação à escola e o vasto mundo de conhecimentos construídos ao longo da vida é tarefa da escola, portanto, repensar conteúdos trabalhados é fundamental para uma prática docente que considere o aprender em uma dimensão mais ampla e coletiva. Devemos considerar, dessa forma, a valorização da palavra, da autonomia e da inclusão de valores éticos e sociais.
A EJA apresenta-se como uma maneira para enfrentar as adversidades e à medida que os alunos atribuem à obtenção aos níveis de escolaridade a condição necessária para a ascensão profissional com a conquista do trabalho mais qualificado, ou ainda a possibilidade de cursar uma universidade.
No que diz respeito à relação trabalho, escola e cultura, os resultados desse trabalho mostram a necessidade de oferecer aos jovens e adultos, condições concretas de participação, tanto nas questões de trabalho, quanto na política social. Os alunos têm o direito de fazer parte do mundo letrado, percebendo que os saberes sistematizados facilitam suas relações pessoais e sua integração profissional.

Reflexões ...

As reflexões em nosso meio docente devem ser constantes para fundamentar o planejamento de ensino.
Trago algumas reflexões que considero importantes, pois é fundamental que cada profissional faça uma análise da sua prática. Pensar que o problema está sempre no aluno, será? Será que eu, como educadora, estou conseguindo estruturar elementos para ensinar e aprender? Por isso é pertinente refletir...
O que meus alunos já sabem?
Quais são as expectativas de aprendizagem apresentadas por meus alunos?
O que meus alunos precisam aprender?
A metodologia usada é adequada para a que meu aluno aprenda?
Há equilíbrio na avaliação? Os professores ao avaliar consideram o aluno na sua totalidade e não apenas como uma nota para provar à instituição o seu saber, redesenhando, assim, o caminho para uma aprendizagem significativa?
Fica aqui o meu convite à sua reflexão e contribuição para esta postagem.

Prática docente

As práticas docentes vão modificando com a experiência assim como vejo minhas experiências tanto como estudante, como de início de carreira docente em que era exigido o plano de curso, de unidade e de aulas, onde recordei-me do Magistério, pois fora justamente desta forma que aprendi.
Segundo a autora, Maria Bernadette Castro Rodrigues, o planejamento banalizava-se em um ato meramente burocrático, citação com a qual concordo, pois planejar previamente é uma situação e colocar em prática o plano tal e qual já é outra situação, pois qualquer situação nova pode mudar o interesse do aluno.
O texto traz afirmações que recordam o início de carreira em que me preparava para desempenhar a prática tal qual o planejamento, bem como a preocupação na elaboração dos planos para atender às regras estabelecidas. A escolha de verbos mais apropriados para formulação dos objetivos, gerais e específicos, a listagem de conteúdos (que se baseavam nas famosas listas de conteúdos mínimos) e recursos, os procedimentos a serem adotados e a avaliação eram itens fundamentais para que o planejamento estivesse adequado às exigências e cobranças às quais deveria corresponder, satisfazendo exigências da supervisão da escola e da rede de ensino.
Com o passar do tempo percebe-se que ocorrem mudanças nas formas de planejar, no entanto vejo o planejamento como um elemento facilitador no processo ensino aprendizagem, no qual o professor estrutura elementos para ensinar e aprender.
Assim o planejamento suscitará em elaborar, vivenciar e acompanhar a aprendizagem dos alunos contribuindo para a formação de cidadãos.

quarta-feira, 9 de setembro de 2009

Contribuições de Comênio

A partir das leituras propostas percebo relações do que Comênio já afirmava há tantos anos com o nosso cotidiano, pois para Comênio a aprendizagem é uma necessidade de todos, homens e mulheres, de todas as classes sociais, de forma igual. Segundo Comênio a aprendizagem deve começar, a partir dos sentidos, da percepção, da experiência do aluno, dando-lhe a base, o suporte para que saiba do que se está falando.
Concordo com Comênio quando propõe que os alunos façam experiências por conta própria e aprendam a partir das próprias observações e não somente repetindo o que outras pessoas disseram, pois os alunos precisam chegar às respostas e não simplesmente receber um texto que o leve a uma resposta pronta.
É necessário conhecer o aluno para levá-lo à construção da aprendizagem, valorizar o que o aluno sabe, bem como partir da sua realidade para construção do saber. A proposta de atividades a partir do nome do aluno, o uso das fotos dos mesmos permitem abrir um leque de atividades que possibilitarão elementos importantes para que as necessidades e as capacidades de todos os alunos sejam consideradas, bem como o trabalho com textos, produção de texto coletivo, criação de poesias, formação de palavras a partir do nome, jogos de memória a partir das fotos, ligar nomes com fotos,..., são atividades que venham ter significado para os alunos.
Comênio criador da obra "Orbis Sensualium Pictus" (o mundo desenhado), no qual ele juntou gravuras, frases simples, sons e letras para a alfabetização e frases em latim para que os alunos pudessem, com um único livro, aprender a ler, escrever e conhecer o mundo a partir da visualização. Este livro foi utilizado nas escolas por mais de 100 anos.
Acredito que o material didático utilizado para alfabetização propunha aprender a ler, escrever e conhecer o mundo a partir da visualização. Imagino este material como uma parte de minha realidade, pois estamos no Programa de Alfabetização
Alfa&Beto, assim como Comênio ilustrou o alfabeto, com desenhos, com frases simples, reprodução de sons e a letra respectiva ao mesmo.
Imagino que os alunos compreendiam assim a relação apresentada por Comênio e tinham mais facilidade em aprender: visualizando, ouvindo e memorizando.

domingo, 6 de setembro de 2009

Fala-se, escreve-se, lê-se sempre do mesmo jeito?

Falar, escrever e ler são três ações diferentes e que com o tempo foram se modificando. Por vezes uma pessoa pode falar corretamente, mas escrever errado, ou vice-versa, escreve corretamente e fala errado.

A fala e escrita são duas modalidades pertencentes ao mesmo sistema lingüístico: o sistema da Língua Portuguesa.

Existem entre elas diferenças estruturais, porque diferem nos seus modos de aquisição, nas suas condições de produção, transmissão, recepção e uso, e nos meios pelos quais os elementos de estrutura são organizados.

O meio de expressão de todas as línguas é o som produzido pelo aparelho fonador, mas há um segundo meio de expressão: a escrita. Apesar das relações entre fala e escrita, o ato de escrever é muito diferente do ato de falar. Esta diferença apresenta-se no fato da pessoa estar presente na hora da fala e ausente no momento em que escrevemos.

As representações de leitura, escrita e oralidade são construídas a partir de determinadas práticas culturais e estruturas sociais e de acordo com as demandas e necessidades da escola. As relações entre a fala e a escrita exigem que se coloque a leitura entre a escrita e a fala, de modo que, abordar uma, sem considerar a outra, apresenta-se para nós, como uma tarefa que não conseguiríamos levar adiante, pois a leitura é uma atividade mental mediadora dessa relação.

terça-feira, 1 de setembro de 2009

Reflexões a cerca do texto “O menininho”

Com base no texto, acredito que sendo a professora do menininho na nova escola, teria um árduo trabalho em resgatar junto a este a criatividade, a iniciativa, a autonomia e o desenvolvimento de ideias próprias, bem como estimular o trabalho independente oferecendo-lhe a oportunidades do trabalho espontâneo. Acredito que também seja necessário um resgate da auto estima deste aluno, pois sendo que sempre fora podado perdera o prazer de criação, em que estereótipos e modelos prontos lhe foram apresentados como corretos e únicos, bitolando o aluno ao modelo estipulado pela professora.
Penso que a realização de diversas atividades em aula possibilitam o crescimento com autonomia e o desenvolvimento da criatividade, pois depende do estímulo dado pela professora. Por exemplo, uma releitura de uma obra de Van Gogh, é necessário estimular e dar liberdade para que os alunos exprimam o que sentiram a partir da imagem, caso contrário não é preciso caracterizar, nem mesmo trazer conhecimentos sobre a obra, basta dizer copiem esta imagem, façam igual.
Como professora, as minhas atitudes desempenham um papel importante no desenvolvimento das atividades, pois os alunos precisam sentir-se seguros e apreciados. É na sala de aula que se refletem atitudes positivas da professora, como estar aberta às necessidades dos alunos, ter curiosidade pelo trabalho do aluno, manifestando interesse e respeito pelos mesmos. É preciso ensinar os alunos a trabalhar independentemente.
Todos, somos pessoas diferentes e nosso trabalho não envolve apenas técnicas, necessitamos atitudes determinadas por valores que visam cooperação, respeito e tolerância, oferecendo oportunidades de valorização e crescimento pessoal. É necessário que nós, professores, tenhamos consciência dos valores em jogo e que consigamos lidar com as diferenças, bem como aceitá-las. Temos que ter a consciência de que somos um modelo importante para os nossos alunos, mas que confiem em seu potencial, que são capazes de criar e recriar. Lembro-me que na infância esmerava-me em fazer meus trabalhos de Artes, mas estes nunca foram expostos nas Mostras de Trabalhos da escola, pois meus trabalhos não tinham beleza aos olhos da professora.Esta é uma das razões pelas quais eu sempre exponho todos os trabalhos de alunos e incentivo igualmente a todos, pois sei do esforço individual que cada um teve para a realização do mesmo.

“O menininho”

Era uma vez um menininho bastante pequeno que contrastava com a escola bastante grande.
Quando o menininho descobriu que podia ir à sala caminhando pela porta da rua, ficou feliz. A escola não parecia tão grande quanto antes.
Uma manhã a professora disse:
- Hoje nós iremos fazer um desenho.
“Que bom!”, pensou o menininho. Ele gostava de desenhar.
Leões, tigres, galinhas, vacas, trens e barcos... pegou sua caixa de lápis de cor e começou a desenhar.
- Esperem, ainda não é hora de começar!
Ela esperou até que todos estivessem prontos.
- Agora, nós iremos desenhar flores.
E o menininho começou a desenhar bonitas flores com seus lápis rosa, laranja e azul.
- Esperem, vou mostrar como fazer.
E a flor era vermelha com o caule verde.
- Assim, disse a professora, agora vocês podem começar.
O menininho olhou para a flor da professora, então olhou para a sua flor. Gostou mais da sua flor, mas não podia dizer isto... virou o papel e desenhou uma flor igual a da professora. Era vermelha com o caule verde.
No outro dia, quando o menininho estava ao ar livre, a professora disse:
- Hoje nós iremos fazer alguma coisa com o barro.
“Que bom!” pensou o menininho. Ele gostava de trabalhar com o barro. Podia fazer com ele todos os tipos de coisas: elefantes, camundongos, carros e caminhões. Começou a juntar e amassar sua bola de barro.
- Esperem, não é hora de começar!
Ela esperou até que todos estivessem prontos.
- Agora nós iremos fazer um prato.
“Que bom!”, pensou o menininho. Ele gostava de fazer pratos de todas as formas e tamanhos.
- Esperem, vou mostrar como se faz. Assim... Agora vocês podem começar. E o prato era fundo. Um lindo e perfeito prato fundo.
O menininho olhou para o prato da professora, olhou para o próprio prato e gostava mais do seu, mas ele não podia dizer isso... amassou seu barro numa grande bola novamente e fez um prato
fundo, igual ao da professora. E muito cedo o menininho aprendeu a esperar e a olhar e a fazer as coisas exatamente como a professora.
E muito cedo ele não fazia mais as coisas por si próprio.
Então, aconteceu que o menininho teve que mudar de escola...
Esta escola era ainda maior que a primeira.
Ele tinha que subir grandes escadas até a sua sala...
Um dia a professora disse:
- Hoje nós vamos fazer um desenho.
“Que bom!”, pensou o menininho. E esperou que a professora dissesse o que fazer. Ela não disse. Apenas andava pela sala.
Quando veio até o menininho falou:
- Você não quer desenhar?
- Sim. O que é que nós vamos fazer?
- Eu não sei, até que você o faça.
-Como eu posso fazer?
- Da maneira que você gostar.
- E de que cor?
- Se todo mundo fizer o mesmo desenho e usar as mesmas cores, como eu posso saber qual o desenho de cada um?
- Eu não sei!
E começou a desenhar uma flor vermelha com um caule verde...

Helen Buckley