quinta-feira, 21 de maio de 2009

Afro-descendentes em minha escola


Com base nestes dados realizei o levantamento de raças na escola. A partir do estatístico de raças dos alunos, conforme declaração dos pais no ato das matrículas e rematrículas:
brancas - 273, pardas - 23, negra - 1, amarela - 1 e não declaradas- 87.
Analisando os dados estatísticos da escola pude perceber como há pessoas que não se declaram, não assumem sua raça.
Conversando com alunos afro-descendentes sobre aspectos étnico-raciais, procurei primeiro deixá-los bem à vontade, para que não criasse expectativas ou despertasse razão para a discriminação.
O primeiro aluno não fora diretamente entrevistado, mas tenho observado seu comportamento desde que falamos em assuntos étnico-raciais. Inicialmente este não se aceitava como negro, embora dissesse que seu apelido era "Neguinho". Dias depois, quando falávamos em questões étnico-raciais este insistia em repetir que era negro. Quando iniciamos o projeto sobre os Índios, o aluno contou-nos que tinha origens indígenas, não há uma conservação de ideias, este ainda não compreende claramente suas origens, bem como muda rapidamente de opiniões.
A segunda entrevista fora realizada com duas irmãs que tem um histórico mais complicado, pois ambas estudam na mesma série, vem de uma outra escola onde sofriam discriminação, principalmente uma das duas, pois tem uma mancha no rosto, esta aluna está defasada, é muito séria e não conversa muito, essencialmente o básico, creio que nestas dimensões desenvolveu mecanismos de defesa que prejudicaram o desenvolvimento pleno da sua aprendizagem. Acredito que hoje esta aluna esta em fase de superação de atos discriminatórios que sofrera e que diminuem sua auto-estima e inibem o pleno desenvolvimento cognitivo. Já a irmã, com menos traços da raça, é mais tranquila, não dá tanta importância aos aspectos étnico-raciais, parece estar à vontade, ao contrário de sua irmã é muito falante e espontânea.
O último entrevistado, o único no estatístico que se assumiu como negro, é um garoto admirável, dono de uma simpatia sem igual. Estudante de nossa escola desde a primeira série, quando questionado diz que se sente igual aos outros colegas, que não sofre discriminação, que ser negro não lhe traz problemas. Assim percebo o aluno em sala de aula, muito tranquilo e bem aceito no grupo de convivência escolar. Nesta entrevista descobri que já fui professora de sua irmã, com a qual eu também, nunca presenciei sofrer nenhum tipo de discriminação.
Acredito que é fundamental o olhar na multiculturalidade existente em nossas salas de aula, pois cabe ao professor o dever de entender e orientar no sentido de compreender as culturas, mudar as crenças preconceituosas, de modo a descobrir a riqueza que há dentro de cada criança.
Talvez o fato de hoje, outras etnias estarem menos presentes em nosso cotidiano, ter perdido a forte expressão que tinham nesta região, traga um conforto aos alunos negros que tanto sofriam a discriminação na escola, pois os reflexos dos preconceitos na sociedade brasileira caminham lentamente para a igualdade. Lembro que quando eu era criança, meu pai, descendente de etnia alemã, tinha muito presente que ser negro era depreciativo, no entanto mesmo ouvindo sua fala racista eu nunca consegui ter a mesma opinião que ele sobre um negro pelo fato de ser outra cor, cultura, poder aquisitivo inferior ou superior, não incutiu em mim estes falsos valores.

Um comentário:

Simone Bicca Charczuk disse...

Oi Rose, o teu relato e as reflexões sobre a realização dessa atividades estão muito bem escritos. Pensando na realização das entrevistas e nas tuas observações em sala de aula, quais foram as tuas aprendizagens ao realizar essa atividade? Quais dificuldades enfrentaste e o que elas puderam te proporcionar de reflexões sobre as questões étnico-raciais? Abração, Sibicca