quinta-feira, 17 de setembro de 2009

Educação de Jovens e Adultos

Os alunos da EJA, quando retornam à escola, trazem muitos saberes e as situações do cotidiano escolar oferecem condições favoráveis ao processo de formação continuada e produção de saberes pelos alunos e professores.
Cabe, portanto, à escola, orientar seu trabalho com o objetivo de preservar e impulsionar a dinâmica do desenvolvimento e da aprendizagem, preservando a autonomia do aluno e favorecendo o contato sistemático com os conteúdos, temas e atividades que melhor garantirão seu processo e integração como alfabetizando e cidadão. Assumir-se como aluno, após um longo período de afastado da escola, consiste em uma das grandes dificuldades apresentadas pelo adulto trabalhador. A necessidade imperativa de desenvolver a disciplina necessária aos estudos, o pouco tempo livre para estudar em casa, o cansaço sentido, após um dia inteiro de trabalho, a percepção de possuírem um ritmo diferenciado de aprendizagem, demandando mais tempo e atenção, tudo isso contribui para tornar ainda mais tensa e difícil a retomada da trajetória de escolarização.
Demandar um trabalho específico que considere seu contexto de vida, necessidades de aprendizagem, desejos e expectativas em relação à escola e o vasto mundo de conhecimentos construídos ao longo da vida é tarefa da escola, portanto, repensar conteúdos trabalhados é fundamental para uma prática docente que considere o aprender em uma dimensão mais ampla e coletiva. Devemos considerar, dessa forma, a valorização da palavra, da autonomia e da inclusão de valores éticos e sociais.
A EJA apresenta-se como uma maneira para enfrentar as adversidades e à medida que os alunos atribuem à obtenção aos níveis de escolaridade a condição necessária para a ascensão profissional com a conquista do trabalho mais qualificado, ou ainda a possibilidade de cursar uma universidade.
No que diz respeito à relação trabalho, escola e cultura, os resultados desse trabalho mostram a necessidade de oferecer aos jovens e adultos, condições concretas de participação, tanto nas questões de trabalho, quanto na política social. Os alunos têm o direito de fazer parte do mundo letrado, percebendo que os saberes sistematizados facilitam suas relações pessoais e sua integração profissional.

2 comentários:

Simone Bicca Charczuk disse...

Oi Rose, já trabalhaste com EJA? Se sim, como foi esse trabalho? O que farias diferente? Se não, como pensas que seria? Quais os desafios? Abração, Sibicca

Roseli Hoffmeister Eberhardt disse...

Olá

Gostaria de falar um pouco da minha experiência com a EJA, de 1997 à 2002.

Neste período trabalhei com séries finais, por meio do Telecurso 2000 e também na alfabetização, onde tive alunos jovens, alunos de meia idade e alunos idosos.
Nestas turmas de Alfabetização estudavam dois jovens, reintegrados a escola por determinação do juiz, novamente via-se retratada a Inclusão social.
Um por envolvimento em roubos, o outro por ter envolvimento em briga e tentativa de homicídio, bem como ambos eram usuários de drogas.
O primeiro sempre muito quieto, introvertido, mas que me deixava assustada. Este concluiu a primeira e segunda série, mas no ano seguinte não voltou aos estudos. Algum tempo depois li no jornal que fora preso por estupro.
O segundo era o oposto, falava muito, por sinal irritava os colegas. Certo dia um colega chamou-lhe a atenção e este ficou tão perturbado que começou a riscar fósforos na idéia absurda de atear fogo no colega dentro da sala de aula.
Alguns dias depois trouxe uma carta que recebera da namorada, a qual me pediu que lesse, pois ainda não compreendia o que lia. Neste dia ele me contou muitas coisas em que estava envolvido, situações bem complicadas e disse que iria mudar-se para um município do interior. Dias depois não mais compareceu à escola.
Já os idosos, que saudades, estes tinham o desejo de aprender a ler e escrever, assinar o nome, no entanto cheios de traumas e bloqueios.
Nesta caminhada com a EJA, vivenciei as grandes dificuldades que os alunos trazem consigo nas séries iniciais, mas quando superam-nas, a aprendizagem passa a ser compreendida em sentido amplo, como parte essencial da vida. O trabalho com a EJA é muito gratificante.

Roseli HE