terça-feira, 28 de abril de 2009

Estádio operatório formal

Finalmente, no quarto estágio estas operações são ultrapassadas à medida que a criança alcança o nível que chamo de operações formais ou hipotético-dedutivas, isto é, ela agora pode raciocinar com hipóteses e não só com objetos. Constrói novas operações, operações de lógica proposicional, e não simplesmente as operações de classes, relações e números. Atinge novas estruturas que são de um lado combinatórias, correspondentes ao que os matemáticos chamam de redes; por outro lado atingem grupos mais complicados de estruturas. Ao nível de operações concretas, as operações aplicam-se a uma circunvizinhança imediata: por exemplo, a classificação por inclusões sucessivas. No nível combinatório, entretanto, os grupos são muito mais móveis.
A inteligência operatório-formal cria um mundo de possibilidades de cujo conjunto o real é apenas um setor limitado. O operatório-formal permite trabalhar com o pensamento hipotético-dedutivo e estabelecer relações entre diferentes teorias. Tais como os instrumentos operatório-formais, possíveis em um quarto período de desenvolvimento cognitivo, permitem uma melhor compreensão do mundo na medida em que dão acesso ao campo das possibilidades.

Estádio operatório concreto

Neste estágio aparecem as primeiras operações concretas devido ao fato de que elas operam com objetos, e ainda não sobre hipóteses expressadas verbalmente. A construção da capacidade de reversibilidade do pensamento assinala o ingresso nas operações concretas. A criança torna-se, então, capaz de realizar operações, ou seja, ações mentais, embora limitadas pelo mundo real. Várias modificações podem ser observadas nas condutas, por exemplo, o sujeito: [...] torna-se capaz de cooperar, porque não confunde mais seu próprio ponto de vista com o dos outros, dissociando-os mesmo para coordená-los. [...] As discussões tornam-se possíveis, porque comportam compreensão a respeito dos pontos de vista do adversário e procura de justificativas ou provas para a afirmação própria. As explicações mútuas entre crianças se desenvolvem no plano do pensamento e não somente no da ação material (PIAGET, 1986, p.43).
Neste período, são construídas as operações lógicas de classificação e seriação, ordenamento, peso e volume e conservações espaciais de comprimento, área e volume espacial e conceito e idéia de número, operações espaciais e temporais e todas as operações fundamentais da lógica elementar de classes e relações.

Estádio pré-operatório

Esse período vai, em média, até mais ou menos os sete anos de idade. Representa o pré-operacional, o início da linguagem, da função simbólica e, assim, do pensamento ou representação. Mas, no nível do pensamento representativo, há agora uma reconstrução de tudo o que foi desenvolvido no nível sensório-motor. Isto é, as ações sensório-motoras não são imediatamente transformadas em operações.
Durante todo este segundo período de representações pré-operacionais ainda não há conservação, que é o critério psicológico da presença de operações reversíveis. Existem “representações da realidade”, por exemplo, se colocarmos o líquido de um copo em um outro de formato diferente, a criança em fase pré-operacional pensará que há mais em um do que em outro. Na ausência da reversibilidade não há conservação da quantidade.
A criança em fase pré-operatória é marcada pelo egocentrismo já que, em função da ausência de um equilíbrio entre os processos de assimilação e acomodação, há muitas assimilações deformantes da realidade ao eu, sem uma acomodação completa. Logo, o pensamento da criança pré-operatória é egocêntrico, o que significa que não é capaz de lidar com idéias diferentes das suas em relação a um determinado tema.

Estádio sensório-motor/pré-verbal

Dura em média os dezoito primeiros meses de vida. Neste estágio desenvolvem-se os conhecimentos práticos, que constitui a subestrutura do conhecimento representativo posterior.
A partir dos primeiros reflexos com os quais a criança é dotada ao nascer, vão se construindo, pouco a pouco, em interação com o meio, as condições necessárias para todas as posteriores conquistas cognitivas.
O mundo do objeto fornece o conteúdo (assimilação), o mundo do sujeito cria novas formas (acomodação), a partir das formas dadas (reflexos) na bagagem hereditária.
Posteriormente, as próprias formas, construídas por este processo de abstração reflexionante, transformam-se em conteúdos a partir de cuja assimilação constroem-se novas e mais poderosas formas. É a ação do sujeito que constrói este novo e fascinante mundo: o mundo do conhecimento – como forma e como conteúdo (BECKER, 2001a, p. 20).
Um exemplo é a construção do esquema do objeto permanente. Para um bebê, durante os primeiros meses, um objeto não tem permanência. Quando ele desaparece do campo perceptivo, não mais existe. Não há tentativa de pegá-lo novamente. Mais tarde o bebê buscará achá-lo e acha-lo-á por sua localização espacial. Consequentemente, junto com a construção do objeto permanente surge a construção do espaço prático ou sensório-motor. o sensório-motor limita-se a “ações na realidade”
Juntamente há a construção da sucessão temporal e da causalidade sensório-motora elementar. Em outras palavras, há uma série de estruturas que são indispensáveis para o pensamento representativo posterior, pois a inteligência sensório-motora que se caracteriza por ser exclusivamente prática perdura até o aparecimento da linguagem.

quarta-feira, 22 de abril de 2009

Uma história de amor e superação


Esta é uma história verídica, de um pai e seu filho que ilustra bem como uma tragédia pode se transformar numa linda conquista. Sem filosofia, mas com muita pratica. Estou falando de Dick e Rick Hoyt , dois homens comuns de classe média da pequenina Winchester, no Estado norte-americano da Virginia. Rick quase morreu no parto. Foi estrangulado pelo próprio cordão umbilical, acidente que deixou sérias sequelas para o resto de sua vida. A lesão cerebral o impediria a ter uma vida normal. Dick, um militar e esportista nato, tinha agora um ‘vegetal’ pra cuidar e não o filho saudável que tanto sonhou. Os pais se mexeram ao longo dos primeiros anos tentando encontrar uma saída que não fosse deixar Rick numa instituição própria para deficientes, conselho dado pelos próprios médicos. Ele não falava, não andava sozinho, não se alimentava sem ajuda, mal podia mover seus braços. Parecia faltar tudo na vida de Rick. Mas o principal ele teve na conta certa. O amor incondicional de seu pai. Anos mais tarde, separado da mulher, com o filho sozinho para cuidar, reformado do exército e aos 58 anos de idade, Dick começou a observar algo diferente no filho. Na frente da TV onde ele passava horas, Rick demostrava um comportamento curioso quando via algo em especial na telinha. As provas de triatlon causavam um entusiasmo no jovem. O pai reparava que seus olhos ficavam vidrados no monitor nessa hora, os braços sem coordenação alguma se movimentavam e ele emitia alguns ruidos entusiasmados. Dick sentia que seu filho ‘participava’ de cada prova que assistia pela TV. Foi ai que ele tomou a decisão em tornar real esse anseio do filho. O amor traduziu a vontade de Rick e fortaleceu o pai a concretizá-la.

Abaixo segue o link que traz o vídeo emocionante desta história.


Inclusão – uma preocupação

O trabalho com pessoas com necessidades educacionais especiais, não é fácil, mas estas tem a oportunidade de vivenciar a importância do valor da troca e da cooperação nas interações humanas.
Portanto, para que as diferenças sejam respeitadas e se aprenda a viver na diversidade, é necessária uma nova concepção de escola, de aluno, de ensinar e de aprender.A efetivação de uma prática educacional inclusiva não será garantida por meio de leis, decretos ou portarias que obriguem as escolas regulares a aceitarem os alunos com necessidades especiais, ou seja, apenas a presença física do aluno com necessidades educacionais especiais na classe regular não é garantia de inclusão, mas sim que a escola esteja preparada para dar conta de trabalhar com os alunos que chegam até ela, independentemente de suas diferenças ou características individuais, o que eu ainda vejo como utopia nas escolas estaduais.
Bem sabemos que os alunos com necessidades educacionais especiais inseridos nas salas de aula regulares, vivem uma situação de experiência escolar precária ficando quase sempre à margem dos acontecimentos e das atividades em classe, porque muito pouco de especial é realizado em relação às características de sua diferença, talvez por falta de preparo do professor ou pelo descaso deste.
Mas como trabalhar a diversidade com salas de aula lotadas, sem apoio necessário e sem capacitação profissional pertinente ao trabalho inclusivo?O processo de inclusão tem sido amplamente discutido por estudiosos e pesquisadores da área de Educação Especial, no entanto pouco se tem feito no sentido de sua aplicação prática. O como incluir tem se constituído a maior preocupação de pais, professores e estudiosos, considerando que a inclusão só se efetivará se ocorrerem transformações estruturais no sistema educacional.

A Inclusão e as redes de ensino de Sapiranga


A Inclusão está cada vez mais presente em nosso cotidiano, no entanto há muito preconceito e discriminação com as pessoas portadoras de deficiências ou necessitadas de educação especial e infelizmente nossas escolas ainda não estão preparadas para atender esta demanda.
Trabalho nas redes estadual e municipal de Sapiranga, onde percebo que o município vem se adequando para atender os alunos portadores de deficiências e necessidades educacionais especiais. Já o Estado matricula alunos com necessidades especiais, mas não instrumentaliza o professor, a escola pra receber e atender esta clientela cada vez mais presente. O Estado não investe na área de Educação Especial, no máximo oferece algumas palestras voltadas à Inclusão, mas como ficam o acompanhamento e a assistência necessária aos alunos com necessidades de educação especial?
Na escola estadual em que trabalho, procuramos orientar as famílias para atendimentos particulares, se esta apresenta condições financeiras ou tentamos encaminhamentos por postos de saúde para atendimentos psicológicos e neurológicos oferecidos gratuitamente no município.
Em nosso município temos apoio para o trabalho de Educação Especial de entidades como a APAE (Associação dos Pais e Amigos dos Excepcionais), APADA (Associação de Pais e Amigos dos Deficientes Auditivos), NAE (Núcleo de Atendimento ao Educando),
CAPS (Serviço de Saúde Mental - Caps de Sapiranga), atendimento para alunos com deficiências visuais na Escola Municipal 1º de Maio.

A estética


A estética faz referência ao belo, onde devemos levar educando a refletir sobre a mesma, levamos o aluno a pensar se há perfeição, se por ser branca uma pessoa seja perfeita,... A educação estética do ser humano requer coragem para compreender mais do que as lógicas do mundo e abrir os horizontes para associação de ideias, impressões e sentimentos, pois "Tudo é forma, até a vida." , escreveu Balzac, reconhecendo um paralelo entre obra de arte e a vida humana. Esta afirmação é bem pertinente à reflexão que fiz com os alunos sobre as diferenças de cor e até mesmo fazer um comparativo com lápis de cor, em que lhes perguntei se há uma cor mais importante do que a outra em suas caixinhas de lápis de cor, que assim como os lápis, somos diferentes, tendo cada qual a sua beleza.

A ética e o ser humano


A ética diz respeito à realização do homem como homem. Isto é, enquanto ser que possui várias dimensões a realizar para sentir-se plenamente humano. Esta realização do homem precisa dar-se na comunidade, no social, porque é lá que se dão os atos morais, econômicos e políticos, é lá que o homem realiza seu ser, seu ser social. Diz respeito às reflexões sobre as condutas humanas em geral. A pergunta ética por excelência é: como devo agir perante o meu semelhante? Isto nos leva a concluir que não bastam apenas mudanças pessoais, individuais; exigem-se mudanças estruturais, radicais no sistema em que vivemos para acabar com os desníveis sociais, geradores de degradação moral e humana.
Conforme citação de Colombo (1993, p. 53), "É por demais sabido que a escola é um agente importante na formação ética dos cidadãos, um determinante nas suas concepções éticas. A escola pode servir como exercício da política, da cidadania, da consciência, da ideia e do respeito à coisa pública."

A escola deve ser um espaço aberto às diferenças

Olhar a especificidade da diferença é instigá-la e vê-la no plano da coletividade. Pensar numa escola pública de qualidade é pensar na perspectiva de uma educação inclusiva. É questionar o cotidiano escolar, compreender e respeitar o jeito de ser negro, estudar a história do negro e assumir que a nossa sociedade é racista. Construir um currículo multicultural é respeitar as diferenças raciais, culturais, étnicas, de gêneros e outros.
Lembro-me de uma aluna que tive no primeiro ano, em 2007, esta não sofria discriminação por parte dos colegas da turma, percebia, no entanto que ela sentia-se diferente, era completamente apática, não buscava o diálogo, os colegas que procuravam entrosar-se com ela, mas não tinham abertura com a mesma. Já no ano passado criou laços muito fortes com um colega da turma, que zelava por ela e era o amigo em quem ela confiava. Infelizmente a menina saiu da escola, agora em sua atual escola disseram-me que fica completamente isolada. Uma colega encontrou-na durante o recreio na outra escola e procurou dialogar com ela, mas ela não fazia questão de responder, sequer ela sabia o nome de sua professora. Esta aluna apresentava dificuldades de aprendizagem, sendo que estas podem estar ligadas às questões sociais, pois não a percebia inserida na escola, muito menos aberta à aprendizagem, pois ela não dava abertura para que pudéssemos intervir e não fora por falta de diálogo com a família.
Esta realidade é perversa, cultuamos a ideia de um Brasil que luta contra as distinções raciais e de gênero, mas que, ao mesmo tempo, ainda guarda resquícios de um processo de escravidão do qual se envergonha. Aqui podemos citar também as questões filosóficas voltadas à ética e à estética, em que também se analisa o sistema social.
A escola, como espaço de integração social, poderá possibilitar a consciência da necessidade dessa integração, desde que todos tenham a oportunidade de acesso a ela e possibilidade de nela permanecer. A educação escolar ainda é um espaço privilegiado para crianças, jovens e adultos das camadas populares terem acesso ao conhecimento científico e artístico do saber sistematizado e elaborado, do qual a população pobre e negra é excluída por viver num meio social, normalmente desfavorecido.
A escola é o espaço onde se encontra a maior diversidade cultural, por isso trabalhar as diferenças é um desafio para o professor, por ele ser o mediador do conhecimento, ou melhor, um facilitador do processo ensino-aprendizagem. O professor tendo um saber crítico, poderá questionar esses valores e saberá extrair desse conhecimento o que ele tem de valor universal.

A presença da diversidade em sala de aula

O trabalho realizado com base na diversidade em sala de aula trata questões delicadas voltadas a etnias, raças, origens, diferenças e semelhanças. Desta forma procurei explorar mais aspectos da identidade, na construção do respeito à diversidade. A identidade evidencia diferenças nos grupos humanos conscientizando para as diferenças e os contrastes com outros, pois o aluno está em formação física, cognitiva e moral.
O desenvolvimento das atividades fora realizado com alunos do primeiro ano, no entanto conforme citei no fórum estes não tem preconceitos ou se o fazem, quando questionados, consegue-se contornar a situação. No entanto percebo que com o passar do tempo o preconceito renasce nestas crianças pois está incutido nas famílias, nos grupos de relacionamento e na mídia. Talvez pensar a diversidade, em sala de aula, seja um dos caminhos para combater os preconceitos e discriminações ligadas às raças, gêneros, deficiências , idades e culturas, constituindo assim uma nova ideia para sociedade como a nossa que é composta por diversas etnias, nas quais as marcas de identidade, como cor da pele, modos de falar, diversidade religiosa, fazem a diferença em nossa sociedade.
Nós, professores, temos a obrigação de perceber as diferenças étnico-culturais sobre essa realidade cruel e desumana. Assim, a intervenção pedagógica poderá contribuir para que ela venha conviver nesta sociedade, de múltiplas configurações de forma a compreender essas diferenças e como são produzidas na sociedade.

A diversidade

Num mundo de grandes desigualdades, nem sempre é fácil lidar com a diferença. Ela está em toda parte. Por vezes, é mais simples percebê-las quando a questão envolve apenas times de futebol, duas religiões, dois partidos políticos, duas formas de agir. Na abordagem de temas mais complexos, ou simplesmente se a proposta exige um exercício crítico rigoroso, podemos dizer que, mesmo entre os mais semelhantes, habitam numerosas diferenças, afinal, cada ser humano é único no conjunto de suas características.
Viver em sociedade implica na necessidade de uma postura em relação às diferenças, essa tende a ser uma condição comum até para quem busca compreender a ética ou a justiça. Mas, e quando as diferenças não são perceptíveis? Ou melhor, o que ocorre quando, em vez de reconhecê-las e valorizá-las, passamos ao largo e assumimos o posicionamento de quem prefere fingir que elas não existem?
Em primeiro lugar, para que um assunto gere discussão e divergência, é preciso que ele seja abordado. Do contrário, a tendência é supormos que o nosso ponto de vista é o único correto. Mais que isso: quando atribuímos juízo de valor às semelhanças e às diferenças, perdemos de vista o que elas podem proporcionar de melhor para uma compreensão mais apurada do mundo em que vivemos. Não deixar que elas se revelem é negar uma possibilidade essencial para a transformação da sociedade: a partir dessa percepção, reformulamos nosso modo de ver as coisas do mundo e, por consequência, o próprio mundo. Esse seria o papel do verdadeiro cidadão, ou seja, descobrir que tipo de consequência tem origem no ato de interpretar o mundo, de uma forma ou de outra. Com essa visão, a descoberta das diferenças pode ser uma experiência enriquecedora.

domingo, 12 de abril de 2009

Escola pública e o educador segundo Fernando Becker

Deixando de lado as honrosas exceções, a escola pública encontra-se hoje em petição de miséria, em quase todos os sentidos. Abordo três por acha-los mais importantes: a) O espaço físico está descuidado, não há dinheiro para manter os prédios, as salas e as áreas de circulação: parece que o poder público esqueceu que o espaço objetivo também tem função educativa. O professor dispõe de poucos recursos físicos (papel, retroprojetor, microscópio, computador, softwares, datashow, mapas, globos, laboratórios com instrumentos pertinentes, recursos para viagens, museus [Cf. o exemplar Museu Interativo de Ciência e Tecnologia da PUC/RS, em Porto Alegre], instrumentos musicais, matéria prima para produção artística, etc., etc.). b) O professor está desanimado, triste, e tem que enfrentar, frequentemente, situações-limite para as quais não está preparado: violência, doenças, psicoses, neuroses, heterogeneidade para além dos limites pedagogicamente suportáveis, além de ver condensado no seu salário um desprestígio social inominável. c) Os alunos revelam problemas crônicos que essa escola vem produzindo há décadas em termos de despreparo do seu quadro docente, de injusta distribuição de renda, desemprego, etc. a ponto de sua juventude, sua capacidade criativa, suas possibilidades cognitivas e afetivas não serem vistas e aproveitadas pela escola como era de se esperar. Tanto com os professores quanto com os alunos acontece coisa parecida: o negativo cresceu tanto que está se sobrepondo ao positivo.
Em educação não existe coisa mais importante que a formação do professor. Essa formação, para ser eficaz, precisa ser contínua. É essa percepção que começa a tomar vulto, há mais de 20 anos do Educação Permanente (lançado no Brasil em 1974), de Pierre Furter. Costumo dizer, e escrever, que o professor ensina porque aprende. A partir do momento que deixa de aprender perde a legitimidade para ensinar. Há um sensor que, embora inconsciente, sabe reconhecer e dar legitimidade ao professor que continua aprendendo. Esse sensor é o aluno. Por isso o processo pedagógico deve estar centrado na aprendizagem (não no aluno): aprendizagem de professores e alunos. Esse processo permanente de aprendizagem também precisa ser aprendido. Como se vê, não se trata apenas de prover momentos (seminários, congressos, oficinas, especializações, mestrados, doutorados, etc. de importância inegável) de formação dos professores, mas também o aprender a aprender cotidiano. Essa é uma habilidade das mais difíceis de ser aprendida. Por isso a direção de uma escola e especialmente sua equipe pedagógica deve primar pela qualidade profissional do seu trabalho. Todos nós sabemos a diferença entre um professor que não estuda, não lê, não se informa, daquele que está permanentemente conectado porque sabe que a ciência produz conhecimentos como jamais o fez e, sobretudo, sente, percebe e compreende o processo de conhecimento como algo prazeroso, que faz parte da dinâmica do seu viver, que dá sentido à sua vida, nas 24 horas do dia e não apenas nos períodos de aula.

Aceitar a diversidade


Lendo texto de Arlete B. Miranda, ressalto o trecho em que cita:

"Reconhecemos que trabalhar com classes heterogêneas que acolhem todas as diferenças traz inúmeros benefícios ao desenvolvimento das crianças deficientes e também as não deficientes, na medida em que estas têm a oportunidade de vivenciar a importância do valor da troca e da cooperação nas interações humanas. Portanto, para que as diferenças sejam respeitadas e se aprenda a viver na diversidade, é necessário uma nova concepção de escola, de aluno, de ensinar e de aprender."


Eu, particularmente, aceito a diversidade, mas me sinto despreparada para ensinar, sei que tenho muito que aprender, mas é necessário que ocorram transformações estruturais no sistema educacional para que se efetive a Inclusão. Abaixo seguem reflexões muito pertinentes de uma professora em um encontro do Sínodo Vale do Taquari um Seminário que reuniu 56 pessoas para falar de Inclusão e Solidariedade:


"Por que demoram em tirar obstáculos ou criar estratégias de inclusão para uma sociedade melhor?
Para que e para quem estamos transferindo nossa responsabilidade?

Temos medo do que nos espera? Quem nos dá a garantia de nossa própria locomoção, visão, audição não estar comprometida no amanhã?
Será que não nos damos conta de que a partir de mudanças todos sairão beneficiados?
E eu, como professora, continuarei partindo do princípio de que todos são iguais?
Valorizar e respeitar as diferenças dos alunos ou agir em prol da valorização da vida como um todo?Mais uma vez me dei conta de que, enquanto eu não assumir esta responsabilidade para com o próximo, e ficar na posição de “queixa”, estarei reforçando a exclusão e com ela a injustiça!A mim parece que “deficientes” somos nós, que ainda não sabemos lidar com as diferenças!!!!Agradeço a oportunidade de ter participado destas reflexões, acrescentaram, aperfeiçoaram e reforçaram meus valores de vida!"


Realmente enquanto falarmos em incluir estaremos excluindo...

Aprendizagem

Muitas vezes os processos de ensino e de aprendizagem são usados como sinônimos, no entanto depende da teoria que estiver embasando a nossa prática pedagógica. A abordagem teórica que trabalharemos neste semestre entende a aprendizagem e o ensino como processos distintos. Desta forma descrevo o processo de aprendizagem construído no semestre passado, na interdisciplina Seminário Integrador V, deste curso de Pedagogia, iniciamos uma caminhada, uma nova etapa para a construção de conhecimento, os projetos de aprendizagem.
A estruturação do projeto deu-se partir de questões selecionadas e discutidas na aula presencial ao início do quinto semestre, em que passamos a interagir para a idealização de um Projeto de Aprendizagem. O projeto fora desenvolvido em grupo, para o qual tivemos que definir, em etapa inicial, a questão de investigação, que seria norteadora do projeto, a questão para qual teríamos que investigar a resposta.
A estruturação de certezas provisórias e dúvidas temporárias, onde eram levados em consideração nossos conhecimentos prévios referentes à questão de investigação. Fora uma fase de discussões e definições, pois esta etapa nos parecia bem complexa. O debate entre o grupo era necessário para produzir uma construção que contemplasse o interesse do grupo, nas proximidades das perguntas iniciais, dado que escolhemos esta pergunta, o por quê pensamos que esta era uma boa pergunta para investigar.
Quando somos desafiados, questionados, desenvolvemos competências para formular e solucionar problemas. Usamos como estratégia as certezas provisórias e as dúvidas temporárias.
Posso destacar que o trabalho com Projeto de Aprendizagens, é um grande desafio. Acredito que o maior aprendizado fora de compartilhar dúvidas, certezas, angústias, erros e acertos no trabalho em grupo.
A construção da aprendizagem se dá por meio das descobertas divididas, onde definir, ceder, questionar, esclarecer,..., foram ações voltadas para aprimorar o conhecimento que tínhamos com relação ao tema escolhido.
O trabalho prático na metodologia de projetos de aprendizagem, na busca da solução de problemas e o desenvolvimento um processo de construção de aprendizagem, permitindo-nos ser autores do nosso próprio conhecimento, trouxe-nos grandes desafios, pois um projeto vai ser gerado pelos conflitos, pelas perturbações no sistema de significações, que constituem o conhecimento particular.
Pensar um projeto de aprendizagem hoje, mostra que desenvolvemos a inteligência e construímos novos conhecimentos em situações de confronto, de descentração de nosso ponto de vista, de intensa cooperação, de momentos em que nos colocamos em "xeque", pela desestruturação e reestruturação de argumentos e de posições, auxiliados pelas questões colocadas por outros, onde somos questionados e levados a pensar de modo a investigar tanto as dúvidas e as certezas.
Nesta metodologia a aprendizagem, onde o professor é tão aprendiz quanto os alunos, não funciona apenas cognitivamente, por isso, em um ambiente de aprendizagem construtivista, é preciso ativar mais do que o intelecto. Conforme citação de Fernando Becker:
"Construtivismo é uma concepção nova que se forma por uma convergência de grandes pensadores e que recebe uma configuração definitiva na Psicologia e na Epistemologia Genéticas de Piaget."
"Significa, fundamentalmente, que o conhecimento não surge no ser humano por força da hereditariedade, por mais importante e imprescindível que ela seja; não aparece por força apenas da experiência (que termo polissêmico!), isso é, da pressão do meio sobre o sujeito; surge, isto sim, de um longo e trabalhoso processo de construção que haure sua substância das ações do sujeito: ações sensório-motoras, ações simbólicas (fala, imitação diferida, brinquedo simbólico, imagem mental), ações interiorizadas em sistemas cada vez mais complexos que coordenam as ações externas, limitadas primeiramente pela concretude das operações construídas pelo sujeito, expandindo-se depois pelas ilimitadas possibilidades das operações formais que constituem as condições da criação artística, científica, ética e estética."

domingo, 5 de abril de 2009

Construtivismo

Para a epistemologia genética a ação é promotora de aprendizagem. Piaget acreditava que a aprendizagem acontece a partir da ação do sujeito, sendo que essa ação pode ser física ou mental.
O Construtivismo, na concepção teórica parte do princípio de que o desenvolvimento da inteligência é determinado pelas ações mútuas entre o indivíduo e o meio. A idéia é que o homem não nasce inteligente, mas também não é passivo sob a influência do meio. O homem responde aos estímulos externos agindo sobre eles para construir e organizar o seu próprio conhecimento, de forma cada vez mais elaborada.
Construtivismo não é apenas o termo pelo qual é conhecida a linha pedagógica, num significado, mais amplo, que ultrapassa as fronteiras do universo escolar. É, sobretudo, o nome de uma das três grandes correntes teóricas empenhadas em explicar como a inteligência humana se desenvolve. As outras duas são o empirismo e o racionalismo. As teorias empiristas e racionalistas reduzem o desenvolvimento intelectual só à ação do indivíduo ou só a força do meio. Já o construtivismo atribui um papel ativo ao indivíduo, sob a influência do meio.
A teoria de Piaget, chamada Epistemologia Genética ou Teoria Psicogenética, é a mais conhecida concepção construtivista da formação da inteligência. O indivíduo constrói desde o nascimento o seu conhecimento.
Piaget mostra que o indivíduo ao nascer, apesar da sua bagagem hereditária não consegue emitir a operação de pensamento; e o meio social não consegue ensinar a este recém-nascido nenhum conhecimento objetivo. O sujeito humano é um ser a ser construído, o objeto, é também, um projeto a ser construído. Sujeito e objeto não têm existência prévia, eles se constituem pela interação. O sujeito age sobre o objeto, assimilando-o: esta ação assimiladora transforma o objeto. Essas transformações dos instrumentos de assimilação constituem a ação acomodadora.
Conforme cita Tânia Marques: "...quanto mais se constroem estruturas de assimilação mais se abrem possibilidades para aprender. Por outro lado, quanto mais se aprende, mais se constroem estruturas de assimilação, o que garante condições para novas assimilações. Nesse processo, percebe-se a síntese continuada entre as condições estruturais do sujeito (continuidade) e as condições do meio, físico ou social (novidade):" A assimilação funciona como um desafio sobre a acomodação a qual faz originar novas formas de organização "(BECKER, 2001, p. 20-1)."
Na visão construtivista, o aluno constrói representações por meio de sua interação com a realidade, as quais irão constituir seu conhecimento, processo insubstituível e incompatível com a idéia de que o conhecimento possa ser adquirido ou transmitido. "É a pessoa que constrói o seu próprio conhecimento", completa o psicólogo Fernando Becker.
O papel do professor, na abordagem construtivista, é facilitar a construção de significados por parte do aluno nas suas interpretações do mundo. Para que possa ajudar o aluno, deverá possuir uma concepção clara da construção de conhecimento enquanto processo dinâmico e relacional advindo da reflexão conjunta sobre o mundo real.
Nós, como professoras precisamos criar situações desafiadoras para os alunos e nós mesmas possamos, como diz Paulo Freire "recriar a vida", de forma a envolver a cultura popular, a história dos alunos ao conhecimento científico. Já o aluno pergunta sobre tudo, pois tem acesso às informações: TV, rádio, mídia impressa, internet, CDs,... Hoje nossos alunos são o modelo pedagógico relacional, não são tabula rasa. Acreditamos que a construção do conhecimento do aluno em sua vida serve de base para continuar a construção.
Portanto aprendizagem é construção, ação e tomada de consciência das ações.

Argumentar...

Os argumentos são formas de organizar informações, a que se chama as premissas, com vista a um determinado fim, a que se chama a conclusão. Há vários tipos de argumentos: dedutivos, por analogia, de autoridade, através de exemplos e causais. Para todos eles existem regras que distinguem os bons dos maus argumentos.
A arte de argumentar é um dos recursos mais importantes e valorosos dos quais um cidadão pode usufruir para defender suas idéias, sua visão de mundo, suas ideologias, a defender e exprimir seus pensamentos..
Não é raro nos depararmos com críticas feitas à filmes, à encenação teatral, à determinada dança, à livros,... A argumentação é usada na matemática, na política, no jornalismo, quando se defende uma tese, quando se escreve uma redação ou quando você quer convencer a sua mãe a deixar você sair.
Argumentação é exigida na escola, no mercado de trabalho e mesmo nas situações cotidianas. Ela está diretamente relacionada com a interação social; saber argumentar é entender a lógica do mundo à sua volta e saber lidar com ele.