domingo, 13 de dezembro de 2009

“Rumo a uma avaliação inclusiva”

As concepções de avaliação na aprendizagem de nossos alunos necessitam da construção da relação professor – aluno, ou seja, o professor precisa conhecer o aluno e não considerá-lo como um modelo quantitativo, um produto final. Com base na avaliação da aprendizagem de meus alunos, procuro seguir a avaliação mediadora, que compreende o processo avaliativo num todo e não só visando o produto final, para o qual eu considero a aprendizagem dos alunos dia-a-dia, não sendo necessária a formulação de provas para verificar o que o aluno aprende. No entanto a escola, no geral, ainda tem amplo apego à avaliação classificatória, por vezes até me desentendi com colegas por não concordar com a forma de avaliação.
Como trabalho com o primeiro ano do ensino fundamental onde a avaliação está presente no cotidiano escolar, pois considero o aluno num todo, levando em conta o ponto de partida deste aluno até o máximo que este conseguiu projetar no ano letivo. Sempre digo que tenho vinte e cinco turmas dentro de uma turma, pois cada qual chega ao primeiro ano num estágio de aprendizagem e como posso querer que todos tenham a mesma aprendizagem quando somos todos diferentes?
Para avaliar tenho critérios básicos como corrigir as atividades no caderno diariamente, tanto as atividades de aula como as tarefas de casa, dar atendimento individualizado para os alunos de forma a perceber seu progresso na escrita e leitura são alguns elementos que me auxiliam para uma avaliação reflexiva.
Os alunos são avaliados, na forma legal, por meio de pareceres descritivos, bem como procuro sempre expressar-me na realização das atividades por meio de um conceito ou parecer que estimule o aluno ou ainda por meio de notas, pois são crianças de primeiro ano que gostam desta descoberta: “a nota que a professora me deu”, claro que aos que não conseguem uma boa nota recebem um parecer de incentivo.
O acompanhamento aos resultados da avaliação vem contemplar e reafirmar o que já estava constatado no acompanhamento diário às atividades dos alunos, pois se o aluno não sabe para uma prova como saberá diariamente em aula?
Acredito que desenvolvo práticas pedagógicas coerentes com relação à avaliação, gostaria mesmo é que esta visão não fosse somente minha dentro da escola, mas sim de todo o grupo. Quando eu trabalhava com a primeira série do ensino fundamental de oito anos era nítida a diferença na avaliação da primeira séria para a segunda série, pois quando iniciavam a segunda série só ouvia o Fulano não sabe nada, o Beltrano lê muito devagar,... Mas não pensaram em como eu recebi estes alunos na primeira série e o árduo trabalho que se tem para mediar e compreende este processo educativo amplo que só ocorre por meio da ação-reflexão na busca constante do conhecimento.

A postura ética do professor frente à avaliação

Tendo em vista uma postura ética do professor, este assume o papel de orientador no processo de avaliação, deve criar condições para que o aluno analise seu contexto e produza cultura num processo participativo com diálogo e cooperação. O professor deve ser facilitador da aprendizagem, não um transmissor de conhecimentos, precisa criar condições para que o aluno aprenda, dando-lhe assistência. Deve tratar o aluno como pessoa única e o aceitar tal qual ele é.
O professor deve criar suas próprias estratégias de ensino e usar de sua capacidade e criatividade para a avaliação, é importante ter um estilo próprio para facilitar a aprendizagem dos alunos contribuindo para o sucesso no processo de avaliação.

Visão unilateral da avaliação

A escola promove a visão unilateral da avaliação, de forma que apenas um dos pólos seja avaliado por todos - o aluno. Primeiro, o aspecto físico-dimensional e organizacional da sala de aula, onde um grande número de alunos está em fila, de costas um para o outro, o professor à frente como figura central. Estabelecem uma rotina de tarefas e provas desvinculadas do processo de construção do conhecimento, descaracterizando assim a avaliação. Após as avaliações bimestrais o professor, no cumprimento das exigências da escola, dar no final do bimestre uma nota ao aluno. A partir daí, continua sua tarefa de “dar a matéria”, apenas para classificar, aprovar ou reprovar, bem oferecer a suposta recuperação de aprendizagem do aluno.

Posição reducionista da avaliação escolar

A avaliação da aprendizagem não deve ser tratada como um elemento à parte, pois integra o processo didático do ensino-aprendizagem como um de seus elementos constitutivos. A posição reducionista caracteriza-se por um ritual, onde o aluno é submetido a provas para provar o que aprendeu. Com as avaliações evidenciamos que a maneira como a avaliação vem se desenvolvendo como uma prática “reprodutivista”, em que o processo de ensino aprendizagem reduz-se aos atos: transmitir - assimilar - memorizar - reproduzir conhecimentos, por meio de questões que induzem à memorização, sem um significado real para a vida dos alunos. Assim ensinar é passar os conteúdos determinados e cobrar do aluno a reprodução desses conteúdos transmitidos através de provas e testes em que a nota final é o indicativo da assimilação dos conteúdos.

Diferenciações entre avaliação “classificatória” e “mediadora”

Com base na leitura do texto pude perceber algumas diferenças entre a avaliação classificatória e a mediadora. A primeira, a avaliação classificatória é voltada à classificação do aluno, bem como é voltada aos dados quantitativos: os resultados, provas, testes, notas. A segunda, avaliação mediadora, compreende um processo educativo amplo que só ocorre por meio da ação-reflexão, para a busca do conhecimento crescente, considerando a prática pedagógica na escola, a relação entre ensino e a aprendizagem, entre o programa e os objetivos e a relação professor-aluno, levando-se em conta os dados qualitativos.

quinta-feira, 10 de dezembro de 2009

As hipóteses de escrita, o erro e a intervenção do professor

As hipóteses e os erros Algumas das hipóteses levantadas pelas crianças são que, na escrita, não se pode representar algo com pequena quantidade de letras ou com letras iguais. Na leitura, ela imagina que não é possível ler sem imagem - como se a escrita fosse sempre a "legenda" que acompanha um objeto. A criança poderá também formular a hipótese do "realismo no­minal", ou seja, a ideia de que o objeto representado se confunde com a palavra que o nomeia. Assim, o tamanho de um objeto deve corres­ponder à extensão de sua representação grafada. Um bom exemplo pode ser observado em boi e formiguinha: se boi é um animal grande, a palavra boi, deveria ser, necessariamente, grande, assim como a palavra formiguinha deveria ter grafia bem pequena. Para a Teoria da Psicogênese, o que aparece como erro à primeira vista é, na verdade, um processo de atividade constante em que a criança está elaborando hipóteses e alargando seu campo de conhecimento linguístico. São os chamados "erros construtivos". Ferreiro e Teberosky afirmam que "o que antes parecia erro por falta de conhecimento surge-nos agora como uma das provas mais tangíveis do surpreendente grau de conhecimento que uma criança tem sobre seu idioma". Intervenção do professor A criança está constantemente pensando sobre seu objeto de aprendizagem - a língua escrita. Quando instigada ou estimulada a conferir suas hipóteses, a criança vive o chamado "conflito cognitivo". Nesse processo, ela pode mudar sua hipótese e transformá-la num outro conceito, mais amplo e mais complexo. É importante que o alfabetizador conheça os processos psicolinguísticos por que passa uma criança ao aprender a ler e escrever. Antes dos estudos da psicogênese, as crianças aprendiam ou não a ler e escrever sem que o professor entendesse as hipóteses e as dificul­dades das crianças ao longo desse percurso. Para a pesquisadora do Ceale e professora do Centro Pedagógico da UFMG, Clenice Griffo, "se o alfabetizador conhecer por que a criança está pensando daquela maneira, ele terá mais condições de fazer intervenções e elaborar atividades para ajudá-la a avançar no processo de aquisição da língua escrita. A opção por um método de alfabetização precisa estar articu­lada a essa compreensão." (Conrado Mendes) Hipóteses do aprendizado da língua escrita A Psicogênese desvendou algumas hipóteses do processo de alfabetização de uma criança. São elas, em linhas gerais: pré-silábica, silábica e alfabética. É importante ressaltar que a passagem de uma hipótese para a outra é gradual e depende muito das inter­venções feitas pelo professor. Hipótese Pré-Silábica: a criança ainda não compreen­deu a natureza do nosso sistema alfabético, no qual a grafia representa sons, e não ideias, como nos sistemas ideográficos (como a escrita chinesa). Nessa fase, ela vai representar a escrita com desenhos ou outros sinais grá­ficos e poderá formular a ideia de que a escrita seria uma espécie de desenho. Por essa razão, a grafia de uma palavra deveria apresentar características do objeto que representa (realismo nominal). O professor deve intervir ajudando o aprendiz a compreender as diferenças entre o nosso sistema de escrita alfabético-ortográfico e outros sistemas de representação, e também a distinção entre "desenhar" e "escrever". Hipótese Silábica: a criança, ao perceber a sílaba como segmento da fala, acredita que cada letra a repre­senta graficamente. Então, ao escrever elefante, grafa quatro letras, como E, L, F e T. Nessa hipótese, a criança pode escrever ainda sem fazer corresponder letra e som; por exemplo, se ela se chama Marcelo, poderá escrever elefante com quatro letras do seu nome. Quando já relaciona letra com o som, a criança está mais perto do princípio alfabético. O professor deve levar o aprendiz a reconhecer unidades ou segmentos sonoros em sílabas, palavras e frases; por exemplo, a segmentação (oral ou escrita) de frases em palavras, de palavras em sílabas, de sílabas em letras. Hipótese Alfabética: ao construir essa hipótese, a criança percebe que, na fala, as palavras possuem unidades menores que as sílabas: os fonemas. Mas ela não percebe logo todos os fonemas. O R no final das palavras ou os sons nasalizados são menos evidentes e, por isso, são mais dificilmente percebidos. Se o professor pede ao aluno para escrever a palavra amor, ele pode escrever AMO e ler amor. Para ajudar a criança a dominar as relações entre grafemas (letras) e fonemas (sons), o professor deve explorar várias estruturas silábicas e levar o aluno a explorar os princípios e regras ortográficos do sistema de escrita.

segunda-feira, 9 de novembro de 2009

Psicogênese da Escrita

De acordo com teoria sobre o aprendizado da língua escrita, o erro do aluno revela seu processo de construção do conhecimento. Quando uma criança ou um adulto está aprendendo a ler e escrever, esse aprendizado é desenvolvido pela elaboração de hipóteses. O ca­minho que todos percorremos durante esse aprendizado foi definido como psicogênese, ou gênese (origem, geração) do conhecimento da escrita, pela teoria resultante do trabalho das pesquisadoras argenti­nas Emilia Ferreiro e Ana Teberosky em que a cons­trução da escrita se apoia em hipóteses espontâneas elaboradas pelo aprendiz. Essas hipóteses, baseadas em conhecimentos prévios, assimilações e generalizações das crianças, dependem de suas interações com os outros e com os usos da escrita e da leitura. Dessa maneira, ao ver um outdoor, por exemplo, a criança faz inferências e suposições a respeito da língua escrita. Pesquisadora do Ceale e pro­fessora aposentada da Faculdade de Educação da UFMG, Maria das Graças Bregunci, afirma: “a única coisa que não podemos dizer, e que é muito usual no discurso pedagógico, é que 'uma criança chega à escola sem conhecimento algum'. O que ela não possui, ainda, é o conhecimento valorizado e sistematizado pela cultura escolar.”

Planejamento X Metodologia Alfa e Beto





Programa de Alfabetização Alfa e Beto





Estamos neste semestre compreeendendo melhor que existem diferentes formas de planejar, mas que devemos de ter o cuidado ao realizá-lo pois dependemos de quais fatores são considerados.
O planejamento é feito para orientar o trabalho do professor e não(somente) para aspectos formais da escola.
Na escola que trabalho fora adotada uma metodologia que já traz um pré-planejamento, uma estrutura pronta, onde cabe ao professor reorganizar e aplicar as aulas, dentre as atividades dos livros e os testes.
A migração para o Programa de Alfabetização Alfa e Beto ocorreu por de processo de escolha, quando a Coordenadoria nos chamou para uma reunião em foram apresentados os programas Alfa e Beto, Instituto Ayrton Senna e Geempa. Sempre tive curiosidade pelo método fônico, mas não tinha amparo para fazer uso do mesmo em sala de aula. Feita a opção, iniciamos o ano letivo com cursos de capacitação para nos apropriarmos da metodologia, por sinal bastante complexa.
O programa tem uma proposta bem voltada à leitura e a escrita. Mas percebo que contempla atividades que vem dar amparo ao professor, fato que percebi quando realizei na escola um curso com a psicopedagoga. Percebi que muitos dos testes que a mesma exemplificou estavam em atividades diversas no livro de atividades do aluno. No entanto não é uma metodologia que se compare à projetos integradores, tem alguns aspectos que por vezes acho bem grosseiros, como textos que não tem nexo, mas a metodologia em si é eficiente, faz com que os alunos aprendam por meio dos sons.




Paulo Freire: a leitura do mundo e os temas geradores

O trabalho com temas geradores apresentado no vídeo “A construção da leitura e da escrita do adulto na perspectiva freireana” contempla muito bem a proposta pedagógica de temas geradores. Paulo Freire, em sua proposta, diz que é necessário reencantar as pessoas para que acreditem num mundo diferente.
A pedagogia freireana mostra a importância do diálogo e do contexto do processo educativo na realidade do aluno. Para Freire a construção de um mapa referencial se faz necessária, o que aprender é prioridade para que o educando compreenda a inserção do texto no seu contexto.
É necessária dar sentido à aprendizagem, conhecer as visões de mundo, as bases que o educando tem para trabalhar as diferentes linguagens. O professor precisa conhecer seu aluno para que compreenda estas visões de mundo.
Paulo Freire afirma que ninguém começa lendo a palavra, que primeiro lê-se o mundo para depois entender a leitura da palavra, ou seja, primeiro tem-se que entender o contexto em que se está inserido e a partir deste explorar a leitura da palavra.
Freire apresenta sua proposta pedagógica como um processo contínuo e permanente que serve para reaproveitar essa leitura de mundo, uma avaliação dialógica, ou seja, voltada ao diálogo.
Retrata a pedagogia do erro, bem como ressalta que para esta não se reprime o educando em função do erro. Este é um aspecto que tenho muito presente, pois temos que levar o educando a construir, pois se repreendido pelo erro pode reprimir-se e não ter estímulos para a reconstrução. Assim o professor auxilia para que o educando desenvolva a autonomia, bem como possibilita interagir em seu círculo de convivências, vencendo conflitos por meio de suas ações na busca da resposta.
É necessário que se tenha presente a aprendizagem como a reconstrução do saber, em que o foco está no interesse do educando, bem como é preciso levar em conta a vivência de mundo que o mesmo tem, pois o educando é o protagonista de sua aprendizagem, sempre num movimento de construção provisória, descentração e reconstrução.

segunda-feira, 2 de novembro de 2009

Reflexões sobre a Surdez

Com base no Historicismo os surdos são narrados como deficientes, já sob uma História crítica são os “coitadinhos” que precisam de ajuda para se promover e se integrar e na visão da História cultural, os surdos são vistos como sujeitos com experiências visuais.
Vendo sob o ponto de vista cultural, o professor Itard, no filme "O menino selvagem" desenvolvia experiências visuais, no entanto mecanizadas e desinteressantes para o menino, assim como no filme “Seu nome é Jonas” em que se utilizando dos códigos fonéticos deveria aprender a se comunicar.
Itard fracassou com na aplicação da fonética, conseguiu apenas ensinar o som de algumas vogais, mas conseguiu a partir destas experiências desenvolver estudos das relações entre garganta, nariz, olhos e ouvidos, assim, criou a Otorrinolaringologia. O garoto sentia-se vazio, via os movimentos labiais, mas de forma alguma compreendia o que lhe repetiam, não havia sentido.
Acredito que Victor, o personagem do filme "O menino selvagem" também não fazia maiores relações, senão mecanizadas, das propostas apresentadas pelo professor Itard, pois não havia formas de comunicação claras entre ambos.

O menino selvagem

Na cena inicial que descreve uma camponesa colhendo bagas na floresta. Ouve um barulho nos arbustos e imagina um animal estranho, quando é um ser humano. Um menino que andava como um animal quadrúpede, subia nas árvores, comia o que encontrava na floresta, coçava a cabeça e o corpo como os animais, tinha um olhar vago, por isso despertou a curiosidade da camponesa que voltou com alguns homens e cães farejadores para encontrar este “animal”, para a surpresa de todos um menino selvagem que fora abandonado e esfaqueado pelos pais por ser anormal. Para Itard é uma criança que teve o infortúnio de sobreviver na floresta em isolamento total e, apenas como resultado desse isolamento, em que supunha ter sido abandonado por ser filho ilegítimo e por isso um estorvo.
Itard compreende que se trata de uma situação excepcional: um jovem privado de educação por ter vivido afastado dos indivíduos da sua espécie.
Quando diagnosticada sua surdez, o professor decide cuidar do mesmo e determinar o seu grau de inteligência, pois o menino era um objeto de curiosidade na sociedade, mas também sofria com a discriminação e a violência.
Na casa do professor Itard, a governanta recebe a criança com muito carinho, cuidando de suas necessidades físicas e afetivas. Dá um trato no menino, cortando-lhe as unhas, o cabelo, veste-o e, seguindo o conselho do professor, vai sempre falando com ele, mesmo que ele não a compreendesse era necessário falar-lhe o máximo possível. Já, Itard, dedica-se à tarefa de educação do menino e desenvolver estudos a partir de suas observações.
Dão-lhe o nome de Victor, ensinam-lhe tudo: colocar suas roupas, andar, comer usando prato e talheres, beber água no copo,..., enfim torná-lo civilizado.
Itard, afirmava que Victor podia ser treinado para ouvir palavras, assim desenvolveu o seu trabalho com o menino, por meio da memorização de objetos e palavras, como aconteceu no filme “Seu nome é Jonas”, em que buscavam memorizar os princípios fonéticos, o que não tinha significado algum para Jonas.
Entendo que Victor agia de forma mecanizada sem dar sentido às assimilações entre objetos e palavras, pois não consegue comunicar-se com as pessoas.
O professor incansável vai ampliando o grau de complexidade em suas atividade na tentativa de ensinar Victor, que por vezes saturado da repetição, recusava-se a continuar, então se jogava no chão, derrubava o que tinha em mãos, irritado como forma de não corresponder ao processo de aprendizagem. Assim o professor colocou-o de castigo, como forma de penalizá-lo por seu fracasso. No entanto, repensando sua atitude, Itard tira-o do castigo e o acalma, uma das poucas demonstrações de afeto do professor com Victor.
Conseguindo levar adiante suas experiências, Itard amplia o grau de dificuldade das atividades, mas sob meu ponto de vista não tem sucesso quanto ao processo de aprendizagem, pois são atividades mecanizadas, repetitivas que não contribuem para para o desenvolvimento e a comunicação de Victor, exceto pelo momento em que vão fazer a visita e o menino volta para buscar as letras que formavam a palavra leite, pois era algo de seu interesse, diferentemente dos demais objetos trabalhados nas tentativas de ensino e aprendizagem.

Pedagogia de Projetos

O trabalho por projetos traz aspectos positivos e desafiadores, pois propicia a articulação dos conhecimentos e beneficia a organização do ensino e da aprendizagem, em que diferentes caminhos determinarão a construção da aprendizagem.
Segundo John Dewey, a aprendizagem por projetos favorece a criação de estratégias de organização dos conhecimentos escolares em relação ao tratamento da informação, a relação entre os diferentes conteúdos em torno de problemas ou hipóteses que facilitam aos alunos a construção de seus conhecimentos, a transformação da informação consequente dos diferentes saberes disciplinares em conhecimento próprio.
Vejo que no trabalho por projetos há preocupação com o educando num todo, onde se considera o crescimento físico, emocional e intelectual, pois muitas vezes o físico e o emocional são ignorados porque o olhar está unicamente voltado à cognição.
A globalização que se percebe nos projetos, mostra que é necessária uma estrutura aberta e flexível com relação aos conteúdos escolares. Desta forma, a escola tem o desafio de proporcionar práticas conjuntas e promover situações de cooperação, em vez de lidar com as crianças de forma isolada.
John Dewey traz uma ideia que sempre considerei muito:

“Não há separação entre vida e educação, esta deve preparar para a vida, promovendo seu constante desenvolvimento, pois as crianças não estão, num dado momento, sendo preparadas para a vida e, em outro, vivendo". Então, qual é a diferença entre preparar para a vida e para passar de ano? Como educar alunos que têm realidades tão diferentes entre si e que, provavelmente, terão também futuros tão distintos?”

É realmente para se pensar, bem como é um aspecto que tenho presente em minhas concepções docentes. Nossos alunos são seres únicos.

quinta-feira, 15 de outubro de 2009

Teses, argumentos e reflexões

Com base nas teses estudadas e refletidas em meus argumentos pude condensar e sintetizar as mesmas de forma repensar e complementar os argumentos de acordo com os comentários das colegas revisoras. Na contra-argumentação muito pouco acrescentei, de acordo com os comentários recebidos. Já no posicionamento final procurei complementar e aperfeiçoar meus argumentos.
O trabalho com Projetos de Aprendizagem configura uma situação aberta,desestabilizadora, em que os caminhos e resultados não são pré-determinados e nem conhecidos de antemão pelos docentes. Nesta prática, os alunos, reunidos empequenos grupos formados por interesses comuns em torno de um fenômenoque querem entender, levantam questões de investigação; buscam, organizam ecomparam informações; elaboram e publicam seus achados, socializando tantoo processo desenvolvido, quanto os resultados alcançados, na medida em que otrabalho se desenvolve.
O desenvolvimento do projeto de aprendizagem se dá por meio de vários elementos constitutivos. Inicialmente é necessária a definição da questão de investigação, norteadora do projeto. Esta deve ser autêntica para o grupo, deve emergir de curiosidades próprias.
A questão de investigação inicial pode ser refinada à medida que levantamos as certezas e as dúvidas, bem como no desenvolvimento de um PA podem surgir novas certezas e novas dúvidas cuja incorporação ao projeto deve ser analisada.
As dúvidas temporárias e as certezas provisórias são conhecimentos prévios relacionados com a questão de investigação e devem oferecer suporte à busca por uma resposta. Buscar esclarecimento para as dúvidas, comprovação ou refutação para as certezas e com isso construir uma resposta a partir de uma articulação entre esses saberes para que se possa chegar a um denominador comum eficaz e com qualidade, gerando assim idéias inovadoras que levem o projeto adiante pode trazer mais incertezas e balançar ainda mais as certezas e dúvidas num movimento complexo de apropriação do conhecimento.
Para responder uma questão de investigação é importante que se utilize diferentes fontes de informação, tais como: textos, coleta de dados, observação de fenômenos, simulações, bem como os registros devem ser coerentes com o tema e sintetizados. Podem-se utilizar recursos diversificados: vídeos, entrevistas, fotos, enquetes.
A construção de mapas conceituais, no início e durante o desenvolvimento de um PA apoia a organização do conhecimento sobre a questão de investigação, evidenciando os conceitos e suas relações, dando suporte à elaboração de uma resposta, pois o mapa conceitual sintetiza, relaciona e evidencia as nossas construções durante o processo de certificação de certezas e dúvidas, bem como nos dá uma visão do todo.
A síntese de desenvolvimento do PA mostra as ideias principais, os caminhos e estratégias utilizadas pelo grupo na construção das aprendizagens. Buscamos contemplar várias informações interessantes, mesclamos o movimento do grupo para chegar à resposta. A síntese traz as informações que ajudam a responder a pergunta e também o caminho que nos permitiu chegar à resposta bem como os movimentos que foram feitos para esclarecer a questão. Falar das dificuldades e conquistas faz parte do PA, pois o torna mais pessoal, aparece um pouco do grupo e da riqueza construída.
Já o plano de trabalho é uma forma de planejamento do tempo e das atividades a serem realizadas para orientar as atividades do grupo. Durante o processo, este plano pode ser revisado para refletir as modificações originadas pelas descobertas do grupo e orientar melhor o planejamento. O trabalho em grupo exige muita cooperação para que se chegue a um consenso.
Diferente da pesquisa escolar, em um PA não interessa que o aluno apenas encontre informações, é preciso que ele aprenda a selecionar informações, analisar essas informações e com elas fazer síntese para construção da resposta à sua questão de investigação. Na busca por respostas para a questão, o estudante precisa trabalhar conhecimento de várias áreas do saber, caracterizando o PA como uma abordagem interdisciplinar.
Buscar respostas para uma questão de interesse da turma vem mostrar que o aluno envolve-se com a aprendizagem que de fato lhe interessa, desta forma será mais atencioso, bem como irá colaborar para ordem e disciplina em sala de aula. A disciplina não é sinônimo de silêncio e o envolvimento dos alunos no desenvolvimento do PA desviará o foco de questões de indisciplina. O movimento e o debate mostrarão que se desenvolve a inteligência e que se constroem novos conhecimentos em situações de confronto, de descentração de pontos de vista, em que deve haver cooperação para a consolidação das ideias para atingir os objetivos do PA.

EJA ainda é um desafio

A realidade da educação de jovens e adultos no sistema educacional brasileiro ainda é um grande desafio, assim como o texto de Regina Hara que significativamente nos traz ideias fundamentais:
“Os desafios enfrentados pelos educadores na EJA: em ensinar, em lidar com a motivação dos estudantes, em conseguir desenvolver a conscientização dos alunos e, até mesmo, a questão da evasão escolar. Muitos destes desafios são originados por fatores de ordem social, pela estrutura social que vivemos: sociedade excludente, que marginaliza, por questões culturais, mas também, pela falta de formação específica para os professores nesta realidade.
Aproveitar as vivências destes alunos para promover o processo educativo, conforme Regina Hara isso fica evidente, principalmente, quando enfatiza a percepção de Paulo Freire para o desenvolvimento das aulas. Precisamos, como educadores, resgatar a experiência de vida, de trabalho, das relações sociais acumuladas e as hipóteses dos sujeitos a respeito da escolarização. Trabalhar desta forma significa a educação e a aproxima da própria realidade contribuindo com a conscientização dos sujeitos e com o desenvolvimento de uma democratização social.É necessário compreender as expectativas dos alunos com relação à escola para saber se esta escola, de fato, está inserida e contribuindo para a vida destes alunos. A EJA não só beneficia a formação dos sujeitos jovens e adultos como também incide sobre o próprio processo de construção de conhecimento das crianças. Isso porque contribui com a qualificação da formação destes sujeitos jovens e adultos que, certamente, promoverão em suas casas um espaço letrado e de uso social da leitura e da escrita.
A construção das hipóteses da escrita das crianças, jovens e adultos é semelhante, como destaca o texto de Regina Hara, a partir de estudos de Emília Ferreiro e Ana Teberosky, que assim como Freire, compreendem o sujeito como ser de saberes e construtor de seu conhecimento, bem como na grande maioria fazem compreensão da escrita da escola e por isso também criam hipóteses sobre a mesma.

segunda-feira, 12 de outubro de 2009

Reflexões sobre a Surdez

A relação entre o mundo ouvinte e o mundo surdo pode ser bem complicada, como é mostrado no filme "Seu nome é Jonas", quando não há uma comunicação em comum e a criança cresce num mundo que não pode compreender devido a surdez. Jonas começa a vibrar com a descoberta dos sinais em relação a tudo em sua volta: árvores, objetos, pessoas e principalmente o desejado cachorro quente. Neste momento passa a compartilhar com outras pessoas as suas "descobertas", e pôde entender na morte da tartaruga, a morte do avô, em que ausência de compreensão de conceitos lhe faltava.
Sabemos que mesmo após tantos anos não mudaram os preconceitos e muitas dificuldades vem de encontro às pessoas surdas, as quais ouvem com os olhos.
A cultura surda é o jeito de o sujeito surdo entender o mundo e de modificá-lo a fim de torná-lo acessível e habitável ajustando-o com as suas percepções visuais, que contribuem para a definição das identidades surdas. Isto significa que abrange a língua, as idéias, as crenças, os costumes e os hábitos de povo surdo. Bem sabemos, nós, que não há língua sem cultura e que a mesma se define a partir de uma etnia, de seus hábitos e de suas identidades, então imaginemos um mundo de silêncio, como buscar comunicação sem um apoio e orientação adequados?

Filme “Seu nome é Jonas”

A partir do filme "Seu nome é Jonas" podemos conhecer melhor a cultura surda. O filme mostrou claramente como a sociedade tem dificuldade em lidar com o diferente, pois o diferente sempre nos incomoda e assusta, pois exige mudanças de comportamento e hábitos para nos adaptarmos.
Jonas inicialmente internado em um hospital, dado como retardado, após três anos retorna para casa, quando finalmente é diagnosticada sua surdez. No entanto neste retorno mexe com a família começa a sentir o estigma da surdez que recai sobre todos os membros da família que procura se adaptar e reestruturar diante desta condição da surdez.
Esta adaptação quando não é bem assimilada pelos pais é difícil, não há aceitação, como o fato de ter um filho com necessidades especiais. Eis que entra a questão do preconceito, como no caso do pai de Jonas que abandonou a família. Também percebemos que este é um dos muitos sentimentos que dificultam esta aceitação, como no filme ficou evidente na frase: _ “Eu não queria que ele fosse surdo; não queria que ele fosse diferente". O pai não conseguia ver no filho um ser humano com potencialidades como qualquer outra criança, bem como era desta forma que a sociedade via o menino.
Já a mãe sempre buscando por respostas, entendeu a importância de trocar os papéis quando não compreendia Jonas. Quando Jonas bate na mãe porque ela não o compreende, este quer um cachorro-quente e não consegue se comunicar, briga com a mãe e a faz chorar pela falta de comunicação, esta se sente impotente diante do filho.
Na primeira experiência escolar de Jonas, o garoto sentia-se vazio, via os movimentos labiais, mas de forma alguma compreendia o que lhe repetiam, não havia sentido. No entanto, quando Jonas passou a aprender Libras o professor surdo tentando ensiná-lo e nada chamava sua atenção. Já no momento em que viu novamente o carro de cachorro-quente ele percebeu que necessitava da comunicação e que a linguagem por sinais seria a forma dele se comunicar com o mundo.
Libras permitiu que Jonas conceituasse o mundo e, por conseguinte, assim o compreendesse e interagisse. Com o filme conseguimos perceber, nitidamente, o valor da língua de sinais para as crianças surdas, tanto para a aquisição de uma língua compatível com as necessidades de comunicação, como para o desenvolvimento de habilidades destas crianças.

domingo, 4 de outubro de 2009

Práticas de Leitura, Escrita e Oralidade no Contexto Social

Ao construir narrativas, a criança brinca com a realidade e encontra um jeito próprio de lidar com ela, assim também a criança traz suas vivências em sua criação, remetendo-se a uma experiência própria, para a qual cria o personagem. As situações vivenciadas pela criança se misturam com sua imaginação, pois traz elementos de sua realidade junto a elementos das histórias ouvidas.
As crianças em fase inicial da alfabetização, que ainda não leem, percebo que incorporam ideias para tornar as suas histórias interessantes. Além disso, o acesso aos livros, textos, histórias contadas tem um papel importante no seu amadurecimento afetivo, garantindo que ampliem seu universo de experiências para além do que podem observar no seu cotidiano. Conforme o autor Gurgel:

“A distinção entre ficção e realidade ainda está em desenvolvimento nos anos da Educação Infantil - um aspecto que sempre deve ser considerado nas conversas com os pequenos. Isso se relaciona com uma das características mais vivas do pensamento da criança: o sincretismo, ou seja, a liberdade de associar elementos da realidade segundo critérios pessoais, pautados principalmente por afetividade, observação e imaginação.”
A criança assume o papel de narrador, nessa flexibilidade de fronteiras entre experiência pessoal e a situação imaginada em que é saudável que misture realidade e ficção para mais tarde separá-las. É como Gurgel coloca:

"Adquirir a fala, por sua vez, é um passo transformador em termos cognitivos, uma vez que é a linguagem que organiza o pensamento. "O pensar não se estrutura internamente, mas no momento da fala". "A narrativa (primeira estrutura da oralidade com que a criança tem contato em seu cotidiano) é, portanto, o que modela e estimula a atividade mental."

É no “fazer-de-conta que lê” e no “fazer-de-conta que escreve”, nestes jogos as crianças vão dando sentido, nas diferentes instituições sociais (família, pré-escola, escola, etc.), que consignam ao sujeito diferentes papéis e possibilidades: o daquele que pode ler e escrever ou fazer de conta que lê e escreve e o daquele que não o pode porque não o sabe. É na presença ou na ausência do brincar de ler para a criança (jogos de contar), no brincar de ler com a criança, no brincar de desenhar e escrever (jogos de faz-de-conta) que se reencontra o sentido social da escrita daquela subcultura letrada.
Assim vejo presente o letramento, pois a criança não está alfabetizada mas já faz uma leitura de mundo, traz consigo o pen­samento mágico. A fala antecede ou tem prece­dência sobre a escrita. Nessa relação de desenvolvimento da linguagem há a presença do letramento. Posso concluir que o letramento e a alfabetização são dois processos complexos que vão se concretizando a medida que fazem sentido para o aluno.

Escola tradicional X Escola nova

Por incrível que pareça, estamos no ano 2009, passaram-se setenta e sete anos do início do movimento educacional Escola Nova , no entanto ainda vemos a imagem da Classe A, retratada na imagem acima, em salas de aula, quando sabemos que a aprendizagem é fundamental ao desenvolvimento dos processos internos na interação com outras pessoas.
O movimento da Escola Nova uniu educadores de vários pontos da Europa e da América do Norte e, aos poucos, foi-se estendendo para muitos países de outros continentes.
Apesar de educadores contemporâneos serem agrupados como uma totalidade, é evidente que os caminhos percorridos por cada um deles, as avaliações realizadas e as propostas alternativas construídas eram singulares e diferenciadas.
Alguns pontos comuns do movimento:
• A crítica à escola tradicional – aos conteúdos preestabelecidos, hierarquizados e dissociados da realidade dos alunos e aos seus métodos de ensino ultrapassados;
• A construção de uma concepção de criança e de aprendizagem distinta da tradicional;
• A crítica ao trabalho escolar que era feito para a escola e não para a aprendizagem e formação da criança;
• A organização de experiências pedagógicas alternativas;
• A luta pela inserção nos sistemas educacionais destas novas práticas;
• A elaboração de materiais de ensino concretos e diversificados;
• As sugestões para a reorganização de espaço da sala de aula e dos tempos de trabalho escolar;
• A proposição de novas formas de organização do ensino;
• A profissionalização da tarefa educativa com a organização dos educadores em sindicatos e associações docentes;
• A crítica a uma escola que tinha as lições como centro da rotina escolar;
• A utilização do método científico na escola (observação, hipótese, verificação, conclusões ou lei geral).
Os fundadores da Escola Nova como Ovide Decroly, Maria Montessori, John Dewey, Célestin Freinet e outros, fizeram uma profunda crítica à escola tradicional, problematizaram o papel do educador, do educando, da organização do trabalho pedagógico e construíram um compromisso com a transformação da escola. Os escolanovistas procuraram criar formas de organização do ensino que tivessem as seguintes características: a globalização, o interesse imediato do aluno, a participação dos alunos e da comunidade, uma reorganização da didática e do espaço da sala de aula. Nestas experiências vamos encontrar vários tipos de caminhos como: as unidades didáticas, os centros de interesse e os projetos.

Metodologias X EJA

A metodologia a ser usada na Educação de Jovens e Adultos, ao meu ver necessita de constantes reflexões, bem como não devemos nos ater a uma metodologia que não esteja efetivamente trazendo resultados esperados.
Por exemplo, usando o método analítico, o aluno é incentivado a decompor uma palavra em sílabas e, depois de isolar cada sílaba, construir sua família: se ele concebe a sílaba como uma só letra, fica difícil perceber a lógica da proposição. Não queremos dizer que o aluno não venha a perceber como isso se dá, mas a forma de trabalhar tira a possibilidade do aluno usar suas hipóteses, tendo que seguir outro caminho.
Isto reforça uma tese do fracasso da alfabetização. Aqueles que de um modo ou de outro aprendem a ler, podem ter se encontrado com uma conduta metodológica compatível com seu estágio de concepção sobre a escrita. Aí estaria uma questão de profundo significado: não é o método que se elege que promove a alfabetização, mas é todo um conjunto de conhecimentos e a postura intelectual que adotamos com relação aos sujeitos e ao objeto da aprendizagem.

EJA X Alfabetização X Emília Ferreiro

Em função dos dados obtidos com crianças, Emília Ferreiro, interessou-se por investigar como os adultos não escolarizados concebiam a escrita. Partia do princípio de que se a compreensão do código escrito precede a entrada na escola, os adultos não escolarizados teriam também, como as crianças, algumas concepções sobre a escrita. Os resultados da investigação permitiram concluir que a aquisição da escrita é uma aquisição conceitual para crianças e adultos, construída pelo sujeito nas relações com o meio, do mesmo modo que se observa em outras áreas do conhecimento.
Os níveis estruturais da linguagem desenvolvidos por Emília Ferreiro e seus colaboradores
com os adultos mostra que os mesmos conhecem o nome de algumas letras e podem usá-las na interpretação de um texto, mostram que são conscientes de que a escrita é um sistema de representação baseado em representação sonora, isto é, o escrito representa o falado. Mostram
também saber que há uma relação entre o nome da letra e o valor sonoro que ela representa.

EJA X Alfabetização X Paulo Freire

A metodologia da alfabetização de adultos, normalmente levados por uma sistematização, a leitura mecânica do chamado Método Paulo Freire, educadores de adultos tem aceito o desafio simplista de escolhidas determinadas palavras ligadas à realidade do educando, desenvolver processos de discussão e/ou aprendizagem que impliquem simplesmente na decodificação de tais palavras e na sua silabação, visando à construção de novas palavras. Tais movimentos, além de se tornarem mecânicos (como se o processo de alfabetização fosse um caminho linear de incorporação de novas sílabas ao universo de aprendizagem do educando), acabam não considerando a experiência acumulada por este educando e suas hipóteses à respeito de como tal processo de escolarização se realiza.
Ao conceber o homem como ser de vocação ontológica para ser sujeito, como um ser de relações atuando na realidade, já se antecipa que, para Paulo Freire, o processo de aprendizagem é dinâmico e ativo. Quando aceitamos que o homem seja sujeito na compreensão do mundo, aceitamos que também o seja na construção do seu conhecimento sobre a escrita, uma parcela do conhecimento social.
Paulo Freire entende alfabetização como um ato de conhecimento, no qual "aprender a ler e escrever já não é, pois, memorizar sílabas, palavras ou frases, mas refletir criticamente sobre o próprio processo de ler e escrever e sobre o profundo significado da linguagem".
Vemos claramente como para ele aprendizagem da leitura e escrita se coloca como um processo. O trecho seguinte esclarece a relação do alfabetizando com o conhecimento e o papel do alfabetizador:

"... sempre vi a alfabetização de adultos como um ato político e um ato de conhecimento, por isso mesmo, como ato criador. Para mim, seria impossível engajarme num trabalho de memorização mecânica dos ba-be-bi-bo-bu, dos la-le-li-lo-lu. Daí que também não pudesse reduzir a alfabetização ao ensino puro da palavra, das sílabas ou das letras. Ensino em cujo processo o alfabetizador fosse 'enchendo' com suas palavras as cabeças supostamente 'vazias' dos
alfabetizandos. Pelo contrário, enquanto ato de conhecimento e ato criador, o processo da alfabetização tem, no alfabetizando, o seu sujeito. O fato de ele necessitar da ajuda do educador, como ocorre em qualquer relação pedagógica, não significa dever a ajuda do educador anular sua criatividade e a sua responsabilidade na construção de sua linguagem escrita e na leitura desta linguagem ."

A descoberta da estrutura silábica da palavra geradora, a composição das famílias silábicas e a criação de novas palavras, é absolutamente coerente com a colocação do alfabetizando como sujeito da construção do seu aprendizado. E mais ainda, ao escolher palavras de profundo significado para os sujeitos, estamos assegurando o envolvimento do educando com elas.

Gente grande também brinca...

Quem disse que adultos não gostam de brincar?
Os alunos da EJA são adultos trabalhadores, que chegam à escola cansados, saem do trabalho na corrida para ir até em casa tomar um banho e ir à escola, quando o conseguem fazer, pois em muitos casos os alunos iam direto do trabalho para a escola.
Enfim o cansaço é um limitante significativo, então como forma de estimular e desopilar realizávamos atividades recreativas, com as quais os alunos cansavam e riam muito, mas acabávamos com o cansaço mental, que em minha opinião é muito pior que o físico. Em seguida retornávamos à aula e trabalhávamos com mais prazer, sem contar que o relacionamento entre os alunos melhorou bastante.

EJA e Alfabetização

A Educação de Jovens e Adultos traz grandes e contínuos desafios, em que nós professores devemos sempre estar motivando o aluno para que não desista, procurando resgatar sua autoestima e buscar meios para a concretização da alfabetização.
Do ano de 1999 a 2002 trabalhei com Alfabetização da EJA, primeira e segunda séries do ensino fundamental, ou seja, quatro anos dedicados à alfabetização de jovens e adultos.
A formação da turma trazia a diversidade em si: alunos jovens, alunos de meia idade e alunos idosos. Nestas turmas convivi com alunos reintegrados a escola por determinação do juiz, em que vejo retratada a Inclusão social na função reparadora do PARECER CNE/CEB 11/2000.
Nesta caminhada “sai do mundo em que eu vivia” e conheci duras realidades, portanto o trabalho com a EJA, eu acredito que sempre será um desafio, mas é muito gratificante.

domingo, 27 de setembro de 2009

Letramento

O conceito de letramento começou a ser usado nos meios acadêmicos como tentativa de separar os estudos sobre o "impacto social da escrita" (Kleiman, 1991) dos estudos sobre a alfabetização, cujas conotações destacam as competências individuais no uso e na práti­ca da escrita. Eximem-se dessas conotações os sentidos que Paulo Freire atribui à alfabetização, que a vê como capaz de levar o analfabeto a organizar reflexivamente seu pensamento, desenvolver a consciência crítica, intro­duzi-lo num processo real de democratização da cultura e de libertação.
Conforme Kleiman (2001), o termo letramento é o conjunto de práticas sociais que usam a escrita enquanto sistema simbólico e enquanto tecnologia, em contextos específicos, para objetivos específicos, extrapolando o mundo da escrita tal qual ele é concebido pelas instituições que se encarregam de introduzir formalmente os sujeitos no mundo da escrita. Ela afirma que a escola (a mais importante agência de letramento) preocupa-se não com o letramento enquanto prática social, mas com apenas um tipo de letramento: o escolar.
No entanto, alfabetização deve ser pensada como um processo que vai muito além de técnicas de transcrição da linguagem oral para a linguagem escrita. Não basta apenas codificar e decodificar signos: é preciso letrar; pensar na perspectiva de alfabetizar letrando, ou seja: ensinar a ler e a escrever no contexto das práticas sociais da leitura e da escrita, de forma que a criança possa se tornar ao mesmo tempo alfabetizado e letrado.
Nós somos seres integrantes do processo ensino-aprendizagem da linguagem, precisamos ao longo do processo de alfabetização desenvolver as capacidades para “letrar” um cidadão, pois uma criança pode não estar alfabetizada, porém já conhece o mundo do letramento ao ter contato com placas, cartazes, panfletos, histórias, jornais, revistas,..., mesmo que ainda não leia.
A sociedade evolui ano após ano, será que basta-nos sermos alfabetizados? Segundo Magda Soares “... um indivíduo alfabetizado não é necessariamente um indivíduo letrado; alfabetizado é aquele indivíduo que sabe ler e escrever; já o indivíduo letrado, usa a leitura e a escrita socialmente, respondendo às demandas sociais de leitura e escrita.”
É fundamental que a escola assuma como próprio o uso social da leitura porque somente assim poderá oferecer um ambiente autenticamente letrado para a grande quantidade de crianças que têm tido pouca oportunidade de participar de situações de leitura fora da escola. É preciso oferecer-lhes “textos do mundo” porque quanto mais variado for o contato dos alunos com os diferentes tipos de texto, quanto mais diversificados forem os objetivos da leitura e escrita, mais chances de se inserirem em práticas sociais de uso de ambas terão os alunos.

Cultura Surda

"O ouvido humano é surdo aos conselhos e agudo aos elogios"
William Shakespeare
Com base às leituras realizadas e com referência a nossa aula presencial, percebi o quão sou ignorante a respeito da surdez. Eu nada sabia a respeito da aprendizagem de Libras, fiquei pasma com o conhecimento de uma língua completamente visual, a língua de sinais, diferente em modo de nossa própria língua, a falada.
Segundo PERLIN (1998: 53), a identidade surda sempre está em proximidade, em situação de necessidade com o outro igual. O sujeito surdo nas suas múltiplas identidades sempre está em situação de necessidade diante da identidade surda. O termo surdo é carregado, no imaginário social, de estigma, de estereótipo, de deficiência, e significa a urgência da necessidade de normalização, em antagonismo ao conceito da diferença, como disse PERLIN (1998: 54): o estereótipo sobre o surdo jamais acolhe o ser surdo, pois o imobiliza a uma representação contraditória, a uma representação que não conduz a uma política da identidade. O estereótipo faz com que as pessoas se oponham, às vezes disfarçadamente, e evitem a construção da identidade surda, cuja representação é o estereótipo da sua composição distorcida e inadequada.
Há a necessidade de uma nova visão sobre o sujeito surdo, que é diferente e não deficiente. Por que não podemos repensar o nosso olhar? O que o sujeito surdo tem de diferente? Segundo PERLIN (1998: 56) ser surdo é pertencer a um mundo de experiência visual e não auditiva. Viver uma experiência visual é ter a Língua de Sinais, a língua visual, pertencente à outra cultura, a cultura visual e lingüística. A identidade surda se constrói dentro de uma cultura visual muito complexa, no entanto essa diferença precisa ser entendida não como uma construção isolada, mas como construção multicultural.
A educação é nosso instrumento de mudança, por meio desta que, direta ou indiretamente, conduzem-se as transformações cruciais em nossa sociedade, em nossa história, pois ela carrega o cerne da manifestação humana - a comunicação - ferramenta preciosa de qualquer cultura onde a presença central se constitui em torno do ser humano. Com a educação, repassamos as informações através da história, e a cultura permanece, sustentando a existência do homem e expandindo-a cada vez mais, delineando os contornos que marcam nossa presença, nossa existência.

segunda-feira, 21 de setembro de 2009

Minhas vivências com a EJA

Gostaria de falar um pouco da minha experiência com a EJA, de 1997 à 2002.Neste período trabalhei com séries finais, por meio do Telecurso 2000 e também na Alfabetização, onde tive alunos jovens, alunos de meia idade e alunos idosos. Nestas turmas de Alfabetização estudavam dois jovens, reintegrados a escola por determinação do juiz, novamente via-se retratada a Inclusão social.Um por envolvimento em roubos, o outro por ter envolvimento em briga e tentativa de homicídio, bem como ambos eram usuários de drogas.O primeiro sempre muito quieto, introvertido, mas que me deixava assustada. Este concluiu a primeira e segunda série, mas no ano seguinte não voltou aos estudos. Algum tempo depois li no jornal que fora preso por estupro.O segundo era o oposto, falava muito, por sinal irritava os colegas. Certo dia um colega chamou-lhe a atenção e este ficou tão perturbado que começou a riscar fósforos na idéia absurda de atear fogo no colega dentro da sala de aula.Alguns dias depois trouxe uma carta que recebera da namorada, a qual me pediu que lesse, pois ainda não compreendia o que lia. Neste dia ele me contou muitas coisas em que estava envolvido, situações bem complicadas e disse que iria mudar-se para um município do interior. Dias depois não mais compareceu à escola.Já os idosos, que saudades, estes tinham o desejo de aprender a ler e escrever, assinar o nome, no entanto cheios de traumas e bloqueios.Nesta caminhada com a EJA, vivenciei as grandes dificuldades que os alunos trazem consigo nas séries iniciais, mas quando superam-nas, a aprendizagem passa a ser compreendida em sentido amplo, como parte essencial da vida. O trabalho com a EJA é muito gratificante.

sexta-feira, 18 de setembro de 2009


“A especialização sem limites culminou numa fragmentação crescente do horizonte epistemológico. Chegamos a um ponto que o especialista se reduz àquele que, à causa de saber cada vez mais sobre cada vez menos, termina por saber tudo sobre o nada. (...)”.
Em nosso sistema escolar, “ensina-se um saber fragmentado, que constitui um fator de cegueira intelectual, que decreta a morte da vida e que revela uma razão irracional. A ponto de o especialista não saber nem mesmo aquilo que acredita saber. Essas “ilhas” epistemológicas, dogmática e criticamente ensinadas, são ciumentamente mantidas por estes reservatórios ou silos de saber, que são as instituições de ensino, muito mais preocupadas com a distribuição de suas fatias de saber, de uma ração intelectual a alunos que não têm fome. (...)
É por isso que o interdisciplinar provoca atitudes de medo e de recusa. Porque constitui uma inovação. Todo o novo incomoda. Porque questiona o já adquirido, o já instituído, o já fixado e o já aceito.”

(JAPIASSU, Hilton. A questão da interdisciplinaridade. Revista Paixão de Aprender. Secretaria Municipal de Educação, novembro, n°8, p. 48-55, 1994.)
Fonte:HARPER, Babette et al. Cuidado, Escola! São Paulo: Brasiliense, 1980

quinta-feira, 17 de setembro de 2009

Função Permanente ou Qualificadora - EJA

Conforme o PARECER CNE/CEB 11/2000, a função permanente ou qualificadora em que a educação de jovens e adultos deve ser vista como uma promessa de qualificação de vida para todos, propiciando a atualização de conhecimentos por toda a vida. Mas do que função, ela é o próprio sentido da EJA, que tem como base o caráter incompleto do ser humano, cujo potencial de desenvolvimento e de adequação pode atualizar-se em quadros escolares ou não-escolares. Mais do que nunca, ela é um apelo para a educação permanente e criação de uma sociedade educada para o universalismo, a solidariedade, a igualdade e a diversidade.

Função Equalizadora - EJA

Conforme o PARECER CNE/CEB 11/2000, a função equalizadora aplica-se àqueles que antes foram desfavorecidos quanto ao acesso e permanência na escola, devendo receber, proporcionalmente, maiores oportunidades que os outros, para ter restabelecida sua trajetória escolar de modo a readquirir a oportunidade de um ponto igualitário no jogo conflituoso da sociedade. Por último, a qualificação, mais do que função, é o próprio sentido da EJA. Tem como base o caráter incompleto do ser humano que busca atualização em quadros escolares e não escolares. Jovens empregados, subempregados ou não, podem encontrar nos espaços e tempos da EJA, nas funções reparadora, equalizadora ou qualificadora, um lugar de melhor capacitação para o mundo de trabalho, construindo conhecimentos, habilidades, competências e valores (BRASIL, 2000, p.30-39). A função equalizadora dará cobertura a trabalhadores e a tantos outros segmentos da sociedade possibilitando–lhes a reentrada no sistema educacional. Há que se reconhecer no seio da sociedade a existência da diversidade e garantir nas políticas públicas a efetivação de oportunidades diferentes para eliminar as desigualdades, equalizar o acesso aos bens sociais e o exercício da cidadania, fazendo cumprir com o princípio constitucional de que a educação é direito de todos.

Função Reparadora - EJA

Conforme o PARECER CNE/CEB 11/2000, a função reparadora constitui-se na restauração do direito a uma escola de qualidade, o que significa ter acesso a um bem real, social e simbolicamente importante, contribuindo para a conquista da cidadania e a inserção no mundo do trabalho, através da aquisição das competências exigidas para isso. A função reparadora significa a entrada no circuito dos direitos civis pela restauração de um direito negado: o direito a uma escola de qualidade e o reconhecimento de igualdade de todo e qualquer ser humano. Significa não só a entrada no circuito dos direitos civis pela restauração de um direito negado – o direito a uma escola de qualidade, mas também o reconhecimento daquela igualdade ontológica de todo e qualquer ser humano.
A função reparadora deve ser vista, ao mesmo tempo, como uma oportunidade concreta de presença de jovens e adultos na escola e uma alternativa viável em função das especificidades sócio-culturais destes segmentos para os quais se espera uma efetiva atuação das políticas sociais. É por isso que a EJA necessita ser pensada como um modelo pedagógico próprio a fim de criar situações pedagógicas e satisfazer necessidades de aprendizagem de jovens e adultos.

Educação de Jovens e Adultos

Os alunos da EJA, quando retornam à escola, trazem muitos saberes e as situações do cotidiano escolar oferecem condições favoráveis ao processo de formação continuada e produção de saberes pelos alunos e professores.
Cabe, portanto, à escola, orientar seu trabalho com o objetivo de preservar e impulsionar a dinâmica do desenvolvimento e da aprendizagem, preservando a autonomia do aluno e favorecendo o contato sistemático com os conteúdos, temas e atividades que melhor garantirão seu processo e integração como alfabetizando e cidadão. Assumir-se como aluno, após um longo período de afastado da escola, consiste em uma das grandes dificuldades apresentadas pelo adulto trabalhador. A necessidade imperativa de desenvolver a disciplina necessária aos estudos, o pouco tempo livre para estudar em casa, o cansaço sentido, após um dia inteiro de trabalho, a percepção de possuírem um ritmo diferenciado de aprendizagem, demandando mais tempo e atenção, tudo isso contribui para tornar ainda mais tensa e difícil a retomada da trajetória de escolarização.
Demandar um trabalho específico que considere seu contexto de vida, necessidades de aprendizagem, desejos e expectativas em relação à escola e o vasto mundo de conhecimentos construídos ao longo da vida é tarefa da escola, portanto, repensar conteúdos trabalhados é fundamental para uma prática docente que considere o aprender em uma dimensão mais ampla e coletiva. Devemos considerar, dessa forma, a valorização da palavra, da autonomia e da inclusão de valores éticos e sociais.
A EJA apresenta-se como uma maneira para enfrentar as adversidades e à medida que os alunos atribuem à obtenção aos níveis de escolaridade a condição necessária para a ascensão profissional com a conquista do trabalho mais qualificado, ou ainda a possibilidade de cursar uma universidade.
No que diz respeito à relação trabalho, escola e cultura, os resultados desse trabalho mostram a necessidade de oferecer aos jovens e adultos, condições concretas de participação, tanto nas questões de trabalho, quanto na política social. Os alunos têm o direito de fazer parte do mundo letrado, percebendo que os saberes sistematizados facilitam suas relações pessoais e sua integração profissional.

Reflexões ...

As reflexões em nosso meio docente devem ser constantes para fundamentar o planejamento de ensino.
Trago algumas reflexões que considero importantes, pois é fundamental que cada profissional faça uma análise da sua prática. Pensar que o problema está sempre no aluno, será? Será que eu, como educadora, estou conseguindo estruturar elementos para ensinar e aprender? Por isso é pertinente refletir...
O que meus alunos já sabem?
Quais são as expectativas de aprendizagem apresentadas por meus alunos?
O que meus alunos precisam aprender?
A metodologia usada é adequada para a que meu aluno aprenda?
Há equilíbrio na avaliação? Os professores ao avaliar consideram o aluno na sua totalidade e não apenas como uma nota para provar à instituição o seu saber, redesenhando, assim, o caminho para uma aprendizagem significativa?
Fica aqui o meu convite à sua reflexão e contribuição para esta postagem.

Prática docente

As práticas docentes vão modificando com a experiência assim como vejo minhas experiências tanto como estudante, como de início de carreira docente em que era exigido o plano de curso, de unidade e de aulas, onde recordei-me do Magistério, pois fora justamente desta forma que aprendi.
Segundo a autora, Maria Bernadette Castro Rodrigues, o planejamento banalizava-se em um ato meramente burocrático, citação com a qual concordo, pois planejar previamente é uma situação e colocar em prática o plano tal e qual já é outra situação, pois qualquer situação nova pode mudar o interesse do aluno.
O texto traz afirmações que recordam o início de carreira em que me preparava para desempenhar a prática tal qual o planejamento, bem como a preocupação na elaboração dos planos para atender às regras estabelecidas. A escolha de verbos mais apropriados para formulação dos objetivos, gerais e específicos, a listagem de conteúdos (que se baseavam nas famosas listas de conteúdos mínimos) e recursos, os procedimentos a serem adotados e a avaliação eram itens fundamentais para que o planejamento estivesse adequado às exigências e cobranças às quais deveria corresponder, satisfazendo exigências da supervisão da escola e da rede de ensino.
Com o passar do tempo percebe-se que ocorrem mudanças nas formas de planejar, no entanto vejo o planejamento como um elemento facilitador no processo ensino aprendizagem, no qual o professor estrutura elementos para ensinar e aprender.
Assim o planejamento suscitará em elaborar, vivenciar e acompanhar a aprendizagem dos alunos contribuindo para a formação de cidadãos.

quarta-feira, 9 de setembro de 2009

Contribuições de Comênio

A partir das leituras propostas percebo relações do que Comênio já afirmava há tantos anos com o nosso cotidiano, pois para Comênio a aprendizagem é uma necessidade de todos, homens e mulheres, de todas as classes sociais, de forma igual. Segundo Comênio a aprendizagem deve começar, a partir dos sentidos, da percepção, da experiência do aluno, dando-lhe a base, o suporte para que saiba do que se está falando.
Concordo com Comênio quando propõe que os alunos façam experiências por conta própria e aprendam a partir das próprias observações e não somente repetindo o que outras pessoas disseram, pois os alunos precisam chegar às respostas e não simplesmente receber um texto que o leve a uma resposta pronta.
É necessário conhecer o aluno para levá-lo à construção da aprendizagem, valorizar o que o aluno sabe, bem como partir da sua realidade para construção do saber. A proposta de atividades a partir do nome do aluno, o uso das fotos dos mesmos permitem abrir um leque de atividades que possibilitarão elementos importantes para que as necessidades e as capacidades de todos os alunos sejam consideradas, bem como o trabalho com textos, produção de texto coletivo, criação de poesias, formação de palavras a partir do nome, jogos de memória a partir das fotos, ligar nomes com fotos,..., são atividades que venham ter significado para os alunos.
Comênio criador da obra "Orbis Sensualium Pictus" (o mundo desenhado), no qual ele juntou gravuras, frases simples, sons e letras para a alfabetização e frases em latim para que os alunos pudessem, com um único livro, aprender a ler, escrever e conhecer o mundo a partir da visualização. Este livro foi utilizado nas escolas por mais de 100 anos.
Acredito que o material didático utilizado para alfabetização propunha aprender a ler, escrever e conhecer o mundo a partir da visualização. Imagino este material como uma parte de minha realidade, pois estamos no Programa de Alfabetização
Alfa&Beto, assim como Comênio ilustrou o alfabeto, com desenhos, com frases simples, reprodução de sons e a letra respectiva ao mesmo.
Imagino que os alunos compreendiam assim a relação apresentada por Comênio e tinham mais facilidade em aprender: visualizando, ouvindo e memorizando.

domingo, 6 de setembro de 2009

Fala-se, escreve-se, lê-se sempre do mesmo jeito?

Falar, escrever e ler são três ações diferentes e que com o tempo foram se modificando. Por vezes uma pessoa pode falar corretamente, mas escrever errado, ou vice-versa, escreve corretamente e fala errado.

A fala e escrita são duas modalidades pertencentes ao mesmo sistema lingüístico: o sistema da Língua Portuguesa.

Existem entre elas diferenças estruturais, porque diferem nos seus modos de aquisição, nas suas condições de produção, transmissão, recepção e uso, e nos meios pelos quais os elementos de estrutura são organizados.

O meio de expressão de todas as línguas é o som produzido pelo aparelho fonador, mas há um segundo meio de expressão: a escrita. Apesar das relações entre fala e escrita, o ato de escrever é muito diferente do ato de falar. Esta diferença apresenta-se no fato da pessoa estar presente na hora da fala e ausente no momento em que escrevemos.

As representações de leitura, escrita e oralidade são construídas a partir de determinadas práticas culturais e estruturas sociais e de acordo com as demandas e necessidades da escola. As relações entre a fala e a escrita exigem que se coloque a leitura entre a escrita e a fala, de modo que, abordar uma, sem considerar a outra, apresenta-se para nós, como uma tarefa que não conseguiríamos levar adiante, pois a leitura é uma atividade mental mediadora dessa relação.

terça-feira, 1 de setembro de 2009

Reflexões a cerca do texto “O menininho”

Com base no texto, acredito que sendo a professora do menininho na nova escola, teria um árduo trabalho em resgatar junto a este a criatividade, a iniciativa, a autonomia e o desenvolvimento de ideias próprias, bem como estimular o trabalho independente oferecendo-lhe a oportunidades do trabalho espontâneo. Acredito que também seja necessário um resgate da auto estima deste aluno, pois sendo que sempre fora podado perdera o prazer de criação, em que estereótipos e modelos prontos lhe foram apresentados como corretos e únicos, bitolando o aluno ao modelo estipulado pela professora.
Penso que a realização de diversas atividades em aula possibilitam o crescimento com autonomia e o desenvolvimento da criatividade, pois depende do estímulo dado pela professora. Por exemplo, uma releitura de uma obra de Van Gogh, é necessário estimular e dar liberdade para que os alunos exprimam o que sentiram a partir da imagem, caso contrário não é preciso caracterizar, nem mesmo trazer conhecimentos sobre a obra, basta dizer copiem esta imagem, façam igual.
Como professora, as minhas atitudes desempenham um papel importante no desenvolvimento das atividades, pois os alunos precisam sentir-se seguros e apreciados. É na sala de aula que se refletem atitudes positivas da professora, como estar aberta às necessidades dos alunos, ter curiosidade pelo trabalho do aluno, manifestando interesse e respeito pelos mesmos. É preciso ensinar os alunos a trabalhar independentemente.
Todos, somos pessoas diferentes e nosso trabalho não envolve apenas técnicas, necessitamos atitudes determinadas por valores que visam cooperação, respeito e tolerância, oferecendo oportunidades de valorização e crescimento pessoal. É necessário que nós, professores, tenhamos consciência dos valores em jogo e que consigamos lidar com as diferenças, bem como aceitá-las. Temos que ter a consciência de que somos um modelo importante para os nossos alunos, mas que confiem em seu potencial, que são capazes de criar e recriar. Lembro-me que na infância esmerava-me em fazer meus trabalhos de Artes, mas estes nunca foram expostos nas Mostras de Trabalhos da escola, pois meus trabalhos não tinham beleza aos olhos da professora.Esta é uma das razões pelas quais eu sempre exponho todos os trabalhos de alunos e incentivo igualmente a todos, pois sei do esforço individual que cada um teve para a realização do mesmo.

“O menininho”

Era uma vez um menininho bastante pequeno que contrastava com a escola bastante grande.
Quando o menininho descobriu que podia ir à sala caminhando pela porta da rua, ficou feliz. A escola não parecia tão grande quanto antes.
Uma manhã a professora disse:
- Hoje nós iremos fazer um desenho.
“Que bom!”, pensou o menininho. Ele gostava de desenhar.
Leões, tigres, galinhas, vacas, trens e barcos... pegou sua caixa de lápis de cor e começou a desenhar.
- Esperem, ainda não é hora de começar!
Ela esperou até que todos estivessem prontos.
- Agora, nós iremos desenhar flores.
E o menininho começou a desenhar bonitas flores com seus lápis rosa, laranja e azul.
- Esperem, vou mostrar como fazer.
E a flor era vermelha com o caule verde.
- Assim, disse a professora, agora vocês podem começar.
O menininho olhou para a flor da professora, então olhou para a sua flor. Gostou mais da sua flor, mas não podia dizer isto... virou o papel e desenhou uma flor igual a da professora. Era vermelha com o caule verde.
No outro dia, quando o menininho estava ao ar livre, a professora disse:
- Hoje nós iremos fazer alguma coisa com o barro.
“Que bom!” pensou o menininho. Ele gostava de trabalhar com o barro. Podia fazer com ele todos os tipos de coisas: elefantes, camundongos, carros e caminhões. Começou a juntar e amassar sua bola de barro.
- Esperem, não é hora de começar!
Ela esperou até que todos estivessem prontos.
- Agora nós iremos fazer um prato.
“Que bom!”, pensou o menininho. Ele gostava de fazer pratos de todas as formas e tamanhos.
- Esperem, vou mostrar como se faz. Assim... Agora vocês podem começar. E o prato era fundo. Um lindo e perfeito prato fundo.
O menininho olhou para o prato da professora, olhou para o próprio prato e gostava mais do seu, mas ele não podia dizer isso... amassou seu barro numa grande bola novamente e fez um prato
fundo, igual ao da professora. E muito cedo o menininho aprendeu a esperar e a olhar e a fazer as coisas exatamente como a professora.
E muito cedo ele não fazia mais as coisas por si próprio.
Então, aconteceu que o menininho teve que mudar de escola...
Esta escola era ainda maior que a primeira.
Ele tinha que subir grandes escadas até a sua sala...
Um dia a professora disse:
- Hoje nós vamos fazer um desenho.
“Que bom!”, pensou o menininho. E esperou que a professora dissesse o que fazer. Ela não disse. Apenas andava pela sala.
Quando veio até o menininho falou:
- Você não quer desenhar?
- Sim. O que é que nós vamos fazer?
- Eu não sei, até que você o faça.
-Como eu posso fazer?
- Da maneira que você gostar.
- E de que cor?
- Se todo mundo fizer o mesmo desenho e usar as mesmas cores, como eu posso saber qual o desenho de cada um?
- Eu não sei!
E começou a desenhar uma flor vermelha com um caule verde...

Helen Buckley

quinta-feira, 9 de julho de 2009

O uso do computador

O uso do computador é uma ferramenta muito importante para alunos com necessidades educacionais especiais:
"A metodologia de trabalho que apoia as atividades da ONG REDESPECIAL estáembasada na construção de ambientes digitais/virtuais construtivistas, que se fundamentamem teorias que dão suporte a essa construção. Neste sentido, utilizam-se esses ambientescomo um recurso para ampliar a comunicação, a linguagem, a autonomia e as trocas entresujeitos, na construção de conhecimento, visando o seu desenvolvimento nas dimensõescognitivas e sócio-afetivas. Portanto, considera-se o computador como uma ferramenta quepode potencializar a articulação de conhecimentos de áreas diversas e promover um trabalhocolaborativo. O papel do professor, ou de outros profissionais junto à PNEE, é demediador/facilitador visando o desenvolvimento cognitivo e social dos sujeitos através deatividades socialmente relevantes, que poderão propiciar novas descobertas (Passerino eSantarosa, 2002)."
Concordo plenamente, que o computador seja uma ferramenta colaborativa. Sempre lembro de um aluno que tive em 2004, se não me engano, que ao solicitar a escrita de palavras no caderno, não conseguia, já com o uso do computador acertava boa parte. Foi a partir deste exemplo que passei a usar o computador como uma ferramenta de apoio e auxílio no reforço da aprendizagem.
Saiu uma reportagem na revista Nova Escola, nº206, em Outubro de 2007, Inclusão, só com aprendizagem; esta num determinado trecho trata da importância dos recursos, que uma estrutura adequada é essencial para criar uma escola inclusiva.
Cita-se um exemplo de um aluno que que sofre com movimentos involuntários provocados por uma deficiência neuromotora que causa também o comprometimento da fala. além do suporte pedagógico, o aluno conta com um computador adaptado para executar as tarefas com mais autonomia, pois tem dificuldades nas atividades que exigem mais precisão, como escrever a lápis ou caneta.

Deficiência mental

Na história da deficiência mental, podemos ver que tudo o que fugia à compreensão do homem era considerado demoníaco, como o caso do menino selvagem, ou seja, do mau, e junto com essa denominação, caminhava a seu lado a desqualificação. Encontraríamos aí, na história da deficiência mental, a origem de muitos preconceitos com relação à deficiência mental. Apesar do conhecimento que já se tem a respeito e das crianças suspeitas de portarem tal limitação, muitas pessoas ainda a consideram uma doença. Podemos detectar esse preconceito através da observação das atitudes sociais frente a essas crianças. Esses indivíduos provocavam aversão e afastamento do meio social como se fossem portadoras de doença contagiosa pois "Aquilo que é diferente e desconhecido, é ameaçador. " Com relação à deficiência mental, já há estudos agora comprovantes que ela não é uma doença, mas sim uma condição.
Os portadores de deficiência mental sofrem a mesma problemática psicológica que os ditos "normais", agravada pela discriminação e rejeição social a que são submetidos. Porém, se lhes são dadas condições adequadas, mostram-se perfeitamente capazes de refletir sobre suas vidas e expressar seus sentimentos. Se houver tratamento adequado ao portador de deficiência mental, isot pode ser decisivo para seu crescimento emocional e existencial, através da ampliação de seu repertório de comportamentos adaptativos e da conscientização de seus limites, assim como do desenvolvimento dos meios de superar e/ou aceitá-los.O trabalho para com o deficiente, apesar das dificuldades emocionais, psicológicas, cognitivas,..., se constitui em desafios à nossa criatividade e habilidade profissional.

Sala de Aula Construtivista

Para a Epistemologia Genética a ação é promotora de aprendizagem. Piaget acreditava que a aprendizagem acontece a partir da ação do sujeito, sendo que essa ação pode ser física ou mental.
A teoria de Piaget é a mais conhecida concepção construtivista da formação da inteligência. O indivíduo constrói desde o nascimento o seu conhecimento. Piaget mostra que o indivíduo ao nascer, apesar da sua bagagem hereditária não consegue emitir a operação de pensamento; e o meio social não consegue ensinar a este recém-nascido nenhum conhecimento objetivo.
O sujeito humano é um ser a ser construído, o objeto, é também, um projeto a ser construído. Sujeito e objeto não têm existência prévia, eles se constituem pela interação. O sujeito age sobre o objeto, assimilando-o: esta ação assimiladora transforma o objeto. Essas transformações dos instrumentos de assimilação constituem a ação acomodadora.
Conforme cita Tânia Marques: “... quanto mais se constroem estruturas de assimilação mais se abrem possibilidades para aprender. Por outro lado, quanto mais se aprende, mais se constrói estruturas de assimilação, o que garante condições para novas assimilações. Nesse processo, percebe-se a síntese continuada entre as condições estruturais do sujeito (continuidade) e as condições do meio, físico ou social (novidade): "A assimilação funciona como um desafio sobre a acomodação a qual faz originar novas formas de organização "(BECKER, 2001, p. 20-1)."
Na visão construtivista, o aluno constrói representações por meio de sua interação com a realidade, as quais irão constituir seu conhecimento, processo insubstituível e incompatível com a idéia de que o conhecimento possa ser adquirido ou transmitido. "É a pessoa que constrói o seu próprio conhecimento", completa o psicólogo Fernando Becker.
O papel do professor, na abordagem construtivista, é facilitar a construção de significados por parte do aluno nas suas interpretações do mundo. Como professora, preciso criar situações desafiadoras para os alunos e juntos, possamos como diz Paulo Freire "recriar a vida", de forma a envolver a cultura popular, a história dos alunos ao conhecimento científico.
Já o aluno pergunta sobre tudo, pois tem acesso às informações: TV, rádio, mídia impressa, internet, CDs,... Hoje nossos alunos são os modelos pedagógicos relacionais, não são tabulas rasas. Assim, acredito que a construção do conhecimento do aluno em sua vida serve de base para continuar, portanto aprendizagem é construção, ação e tomada de consciência das ações.
Numa sala de aula construtivista para haver aprendizagem, o professor é tão aprendiz quanto os alunos, não funciona apenas cognitivamente, por isso é preciso ativar mais do que o intelecto. Conforme citação de Fernando Becker: "Construtivismo é uma concepção nova que se forma por uma convergência de grandes pensadores e que recebe uma configuração definitiva na Psicologia e na Epistemologia Genéticas de Piaget.”. Desta forma a teorização de Piaget tem o poder de unificar as duas grandes dimensões constitutivas do sujeito: a cognição e a emoção.

Desenvolvimento Moral

Com base na leitura do texto de Jaqueline Picetti em que faz os questionamentos “Será que as atitudes observadas e consideradas pelos os professores como violentas tem o mesmo significado para os alunos? As atitudes dos alunos não seriam características do processo de construção da moralidade? Quais as contribuições dos trabalhos pedagógicos em relação a essa problemática?”.
Muitas vezes reflito sobre o assunto, cada vez mais presentes em sala de aula, pois acredito que há alunos que agem desta forma como um pedido de socorro.

Os valores morais são construídos a partir da interação do sujeito com os diversos ambientes sociais e será durante a convivência diária, principalmente com o adulto, que ela irá construir seus valores, princípios e normas morais. Assim sendo, posso concluir que esse processo requer tempo. Para que estas interações aconteçam, há a ocorrência de processos de organização interna e adaptação e essa ocorre na interação dos processos de assimilação e acomodação.
Segundo Piaget, no aspecto moral a criança passa por uma fase pré-moral, caracterizada pela anomia, coincidindo com o "egocentrismo" infantil e que vai até, aproximadamente, cinco anos. Gradualmente, a criança vai entrando na fase da moral heterônoma e caminha gradualmente para a fase autônoma.
Na fase de anomia, natural na criança pequena, ainda no egocentrismo, não existem regras e normas. O bebê, por exemplo, quando está com fome, chora e quer ser alimentado na hora. As necessidades básicas determinam as normas de conduta. No indivíduo adulto, caracteriza-se por aquele que não respeita as leis, pessoas, normas.
Na medida em que a criança cresce, ela vai percebendo que o "mundo" tem suas regras. Ela descobre isso também nas brincadeiras com as crianças maiores, que são úteis para ajudá-la a entrar na fase de heteronomia.
Na moralidade heretônoma, os deveres são vistos como externos, impostos e não como obrigações elaboradas pela consciência. A responsabilidade pelos atos é avaliada de acordo com as conseqüências objetivas das ações e não pelas intenções. O indivíduo obedece às normas por medo da punição. Na ausência da autoridade ocorre a desordem, a indisciplina.
Na moralidade autônoma, o indivíduo adquire a consciência moral. Os deveres são cumpridos com consciência de sua necessidade e significação. Possui princípios éticos e morais. Na ausência da autoridade continua o mesmo. É responsável, autodisciplinado e justo. A responsabilidade pelos atos é proporcional à intenção e não apenas pelas conseqüências do ato.
O processo educativo deve conduzir a criança a sair de seu egocentrismo, natural nos primeiros anos, caracterizado pela anomia, e entrar gradualmente na heteronomia, encaminhando-se naturalmente para a sua própria autonomia moral e intelectual que é o objetivo final da educação moral. Esse processo de descentração conduz do egocentrismo (natural na criança pequena) caracterizado pela anomia, à autonomia moral e intelectual.
As atividades de cooperação, num ambiente de respeito mútuo, embasado na afetividade, preservam do egoísmo e do orgulho, auxiliando a criança no longo processo de descentração, conduzindo-a gradativamente da heteronomia para a autonomia moral. Um ambiente de medo, autoritarismo, respeito unilateral tende a perpetuar a heteronomia.
Do egocentrismo inicial a criança, gradualmente, vai "saindo" de si mesma, ampliando sua visão de mundo e percebendo que faz parte de um todo maior. Gradualmente, aprende a cooperar, a respeitar e a amar o próximo.

domingo, 7 de junho de 2009

Bullying...

Hoje, vemos o poder da mídia entrando em nossas escolas, tanto a novela retrata situações de bullying, que como forma de modismo, de chamar a atenção é que vem sendo adotado pelos alunos, fazendo filmes e divulgando-os na internet. O bullying compreende todas as formas de maneiras agressivas, intencionais e repetitivas, que ocorrem sem motivo evidente e são tomadas por um ou mais estudantes contra outro, causando traumas, e são executadas dentro de uma relação desigual de poder.
A prática de atos agressivos e humilhantes de um grupo de estudantes contra um colega, sem motivo aparente. O termo bully significa brigão, valentão. Trata-se de um problema complexo e de causas múltiplas. Portanto, cada escola deve desenvolver sua própria estratégia para reduzi-lo. A única maneira de se combater o bullying é através da cooperação de todos os envolvidos: professores, funcionários, alunos e pais. As medidas tomadas pela escola para o controle do bullying, se bem aplicadas e envolvendo toda a comunidade escolar, contribuirão positivamente para a formação de costumes de não a violência na sociedade.O texto de Adorno é um alerta para a sociedade e para os educadores. É preciso refletir sobre o tipo de ser humano que nosso sistema social está gerando e formando. Somente a reflexão crítica e filosófica pode impedir que as pessoas cheguem a ponto de repetir atrocidades, que sejam devotas e se submetam a ideologias de intolerância de qualquer ordem. Repensar a realidade educacional, questionar as políticas educacionais embutidas de ideologias impostas como corretas e intocáveis é tarefa do educador consciente.
Quando a realidade educacional e cultural se torna endurecida e inflexível fica em total descompasso com a sensibilidade de ser “humano”. Questionando os papéis e as condições da família, da escola, da mídia, do sistema, da política governamental poderemos chegar às respostas para os fracassos educacionais. De tudo isso, o mais importante é a tomada de consciência de que cada acontecimento de barbárie não se resume apenas ao ato de sua consumação, mas envolve outras questões que criaram a possibilidade para que ele viesse a acontecer.Adorno sugere os esportes, jogos lúdicos, sem o propósito competitivo, mas do convívio solidário e de equipe, onde as forças são somadas para o cumprimento de uma meta comum. Despertar a sensibilidade e inibir a brutalidade por meio das artes em geral como formas de expressões culturais que quando despertadas elevam e sintonizam ao humano à sua essência interior. Repensar a escola é humanizá-la, direcioná-la para o caminho da cooperação, do diálogo, do entendimento, do apoio a posturas sensatas e conciliatórias. Através das relações interpessoais, que mexem com a emoção e geram laços afetivos se consegue uma ação transformadora e humanizadora. Se for necessário, que se ensine a “ser” e a se “conhecer”, ao invés de ensinar pacotes de conteúdos e conhecimentos.Uma sociedade educacional é aquela que cria vínculos, que valoriza as diferenças e resgata as identidades perdidas. A escola humanizada é solidária, é espaço de socialização, de convivência harmônica e de preservação da vida plena para que Auschwitz nunca mais se repita. Vale lembrar que já na Antiguidade, os sábios Sócrates e Platão, concordavam que o objetivo máximo da Educação era despertar o corpo e a alma para a beleza, a virtude, o amor, a verdade, o bem...

EDUCAÇÃO APÓS AUSCHWITZ

O mundo agora “globalizado” e civilizado, onde predomina a ideologia capitalista está correndo sérios riscos.
Atualmente, o indivíduo, sujeito ao imediatismo, ao consumismo e ao individualismo desenfreado, no entanto como preparar a pessoa para esses descaminhos? O que a educação pode fazer pela pessoa? O que devemos cultivar como valores? Que sementes devem ser plantadas para que a pessoa seja mais humana e não desumana?
Onde teria ocorrido tamanha falha na formação daqueles homens que se prestou a tanta crueldade? Na sociedade? Na família? Na escola? Nesse conjunto social?
Já as escolas, cada vez mais se assemelham a prisões, prédios mal planejados, danificados, grades por toda parte, frieza de concreto, salas abafadas e lotadas de alunos. Será que esse ambiente propicia o despertar da sensibilidade e da criatividade para uma aprendizagem transformadora?
É preciso repensar a escola urgentemente. Adorno nunca foi tão atual, retomar esse assunto é fundamental para evitar “minis-auschwitzes” nacionais. No nosso cotidiano, deixam-me perplexa —como disse no início— as brigas, os ódios, a falta de discernimento, a ausência da capacidade de análise crítica, a perda do diálogo.
Falar de Auschwitz e desse cotidiano de dor a que devemos resistir, não para ingenuamente comparar o antes e o agora e concluir se já foi pior, nem para dizer que é igual, trata-se de crimes contra a humanidade, trata-se de tentativas de eliminar o diferente.
Educar contra a barbárie significa recuperar a história e as histórias guardadas e esquecidas, estabelecendo uma outra relação com a tradição; significa colocar o presente numa situação crítica e compreender que o passado não precisaria ter sido o que foi o presente pode ser diferente do que é e que, portanto, é possível mudar o futuro.
Por vezes é também muito difícil para nós acreditarmos no que vemos e vivemos, é difícil acreditar que a barbárie é presente e que é urgente educar contra ela, o que nos impõe em primeiro lugar a necessidade de aceitação do outro. Reconhecimento da opressão, capacidade de resistência e utopia de uma sociedade justa e sem discriminação de nenhuma espécie, sem exclusão,...

segunda-feira, 1 de junho de 2009

Concepções de índio

A denominação índio ou indígena, segundo os dicionários da língua portuguesa, significa nativo, natural de um lugar. São também o nome dado aos primeiros habitantes (habitantes nativos) do continente americano, os chamados povos indígenas. Mas esta denominação é o resultado de um mero erro náutico. O navegador italiano Cristóvão Colombo, em nome da Coroa Espanhola, empreendeu uma viagem em 1492 partindo da Espanha rumo às Índias, na época uma região da Ásia. Castigada por fortes tempestades, a frota ficou à deriva por muitos dias até alcançar uma região continental que Colombo imaginou que fossem as Índias, mas que na verdade era o atual continente americano. Foi assim que os habitantes encontrados nesse novo continente receberam o apelido genérico de “índios” ou “indígenas” que até hoje conservam. Deste modo, não existe nenhum povo, tribo ou clã com a denominação de índio. Na verdade, cada “índio” pertence a um povo, a uma etnia identificada por uma denominação própria, ou seja, a autodenominação, como o Guarani, o Yanomami, etc.
Quando era criança e falávamos em índios, logo eu pensava em gente nua na mata, gente agressiva ou ainda em pessoas pobres pedindo esmola nas cidades. Muito errado, pois lendo o texto entendo que não existem índios, mas povos, isto é, conjunto de pessoas unidas por uma história, uma cultura, uma língua comum, que as diferenciam umas das outras. São povos nativos ou originários, porque foram os primeiros habitantes deste continente.
Com o surgimento do movimento indígena organizado a partir da década de 1970, os povos indígenas do Brasil chegaram à conclusão de que era importante manter, aceitar e promover a denominação genérica de índio ou indígena, como uma identidade que une, articula, visibiliza e fortalece todos os povos originários do atual território brasileiro e, principalmente, para demarcar a fronteira étnica e identidária entre eles, enquanto habitantes nativos e originários dessas terras, e aqueles com procedência de outros continentes, como os europeus, os africanos e os asiáticos. A partir disso, o sentido pejorativo de índio foi sendo mudado para outro positivo de identidade multiétnica de todos os povos nativos do continente. De pejorativo passou a uma marca identidária capaz de unir povos historicamente distintos e rivais na luta por direitos e interesses comuns. É neste sentido que hoje todos os índios se tratam como parentes. O termo parente não significa que todos os índios sejam iguais e nem semelhantes. Significa apenas que compartilham de alguns interesses comuns, como os direitos coletivos, a história de colonização e a luta pela autonomia sociocultural de seus povos diante da sociedade global.